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"Rainha dos Condenados" é comédia involuntária

Inspirado na história de vampiro criada pela escritora Anne Rice, filme reconduz o gênero para a produção de segunda classe

Por Agencia Estado
Atualização:

Com A Rainha dos Condenados, o filme de vampiro volta a seu caixão de segunda classe habitual, após enterros mais afluentes como os de Entrevista com o Vampiro. Aliás, é a continuação daquela história, com a diferença de que num o vampiro Lestat é feito por Tom Cruise e, neste, por Stuart Townsend, cujo currículo obscuro ostenta títulos como Ressurreição e Clube dos Traiçoeiros. Embora Anne Rice tenha mania de andar vestida de vampira _ uma mania talvez inspirada por uma marqueteira preguiçosa _, seus livros usam os vampiros cosmeticamente. De qualquer forma, Anne Rice tem algumas boas idéias. Como a da entrevista no primeiro livro das Crônicas dos Vampiros, a série infinita que ela escreve. Aqui, a boa idéia é Lestat virar roqueiro. O problema é que alguém faz Townsend representá-lo de jeito tão amaneirado que cada gesto do ator como vampiro equivale a uma desmunhecada que parece as de figurante gay do Zorra Total . Não é a única coisa que faz de A Rainha uma comédia involuntária. Lestat, por exemplo, explica que dormiu nos últimos 200 anos porque não agüentava mais o mundo. E diz que acordou porque percebeu que agora tudo estava diferente _ melhor. O melhor, diz o filme, é que o vampiro hoje pode ser um roqueiro, andar vestido como se Halloween fosse o ano inteiro, catar pescocinhos apetitosos por aí. Todos irão adorar e você tem o benefício de virar o maior superastro da Terra. É o que acontece com Lestat até que encontra a rainha-título. Que no começo é de pedra. Ao som do violino de Lestat _ roqueiro vampiro que se preza não usa uma guitarra comum _, a pedra se quebra e lá surge, gingando como uma passista de escola de samba, Akasha, a primeira e única. Interpretada por Aaliyah, a cantora que morreu num desastre de avião em agosto, a rainha é do balacobaco. O vampiro iniciador de Lestat, um certo Marius (Vincent Perez), diz a ele: "Quando ela governava o Egito, bebeu o mundo até secar." Pois é, Akasha é desse tipo. Pena que Aaliyah não tenha podido fazer outros filmes. Pois ela tem um carisma e tanto, todo mundo some na tela ao seu lado (mesmo levando em consideração que ninguém do elenco é grande coisa). A personagem não tem muito o que fazer além de carbonizar desafetos e fazer cara de brava. Nos intervalos, Akasha apaixona-se por Lestat. Ela é bem explícita, mas o vampiro não parece entusiasmado. Até beber o sangue da garota. Aí, ele enlouquece por ela. Deve ser algum problema de hormônios adormecidos por tantos séculos. Mas Lestat parece mais interessado por Marius, e vice-versa. Ele aparece na vida do vampiro após tanto tempo que Lestat comenta: "Como é que você passou os anos 50 com esse veludo vermelho?" É verdade que, pelo que se diz no filme, Lestat dormiu todos os anos 50 e não teve tempo de estudar os costumes e a moda dessa década. No começo de toda a história surge uma pesquisadora de vampiros em Londres, Jesse (Marguerite Moreau). Como toda ingênua de filme de terror, ela não liga para o perigo e para o bom senso e vai a um bar de vampiros. Sim, é esse tipo de filme. Bem, Jesse acaba encontrando Maharet (Lena Olin), uma espécie particular de vampira do Bem. Ela vai reaparecer na cena final, talvez o pior clímax de um filme de vampiros desde que Nosferatu era um jovem vigoroso e corado, de unhas bem manicuradas. O tal final envolve uma porção de vampiros, súditos de Akasha, que se revoltam contra ela, quando sabem dos planos dela de conquistar o mundo e dividi-lo com Lestat. Seria uma ótima desculpa para assumir de vez um clima de escracho total, mas alguém no filme deve ter achado que Anne Rice é para ser levada a sério e perdeu uma boa oportunidade de nos matar de rir.

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