Questão afegã volta ao cartaz em novo filme iraniano

Depois de Filhos do Paraíso e O Pai, estréia no Brasil o novo filme de Majid Majidi, Baran

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Por Agencia Estado
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Moshen Makhmalbaf, sua filha Samira, não são poucos os diretores iranianos que têm se ocupado da questão afegã. Um letreiro na abertura do novo filme de Majid Majidi lembra a situação do país, ocupado pelos soviéticos e, depois, oprimido pelo Taleban. Mais de 1 milhão de afegãos cruzou a fronteira, instalou-se no Irã e hoje há uma legião de cidadãos de segunda classe que vivem e trabalham clandestinamente no país, ligados a velhas tradições, mas sem ter ido nunca à terra de seus ancestrais. Passa o letreiro e aí começa Baran. Apesar da cor, tratada sem esteticismo algum, parece um filme neo-realista, sobre um personagem pobre, que trabalha numa obra de construção civil. É o responsável pela alimentação dos operários, que incluem muitos afegãos. De repente, irrompe um fiscal do governo iraniano e é aquela corrida para esconder os clandestinos. É neste contexto que Lateef, um bruto, vê o seu cargo ameaçado pela chegada de um menino. Ele é filho de um operário afegão que caiu do andaime e o protagonista até é solidário com esse pobre homem. Mas aí chega o menino, muito frágil para as funções pesadas, e começa a ocupar a função de Lateef. Cria-se a animosidade. Num momento, o irritado Lateef chega a esbofetear o menino, Rahmat, que recua com a dor estampada nos grandes olhos puros, mas o encara com firmeza, com uma pedra na mão. E, então, opera-se o fascínio. Um movimento de câmera, uma sombra projetada na cortina e Lateef descobre alguma coisa decisiva sobre a identidade de Rahmat que vai mudar sua vida. De agressor do menino, torna-se o seu protetor, mas a distância, sem nunca estabelecer o contato direto. E, então, em outro momento, como Zampano em La Strada, de Federico Federico, o bruto humaniza-se e verte uma lágrima silenciosa. O filme é todo assim, feito de contatos que não se realizam, de olhares intensos, de gestos furtivos. Converge para o derradeiro plano: qual é o mistério daquela pegada no barro amolecido pela chuva? É um filme sobre o ciclo do tempo. Chuva, vento, neve. É um filme sobre emoções e sentimentos. Majidi, diretor de Filhos do Paraíso e O Pai, tem alma de poeta, sem deixar de lado suas preocupações críticas e sociais.

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