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Protestos iranianos chegam à tela grande no Festival de Veneza

Por SILVIA ALOISI
Atualização:

A diretora iraniana Hana Makhmalbaf, 21, levou à tela grande os sangrentos protestos de rua que se seguiram à eleição presidencial de junho no Irã, em um filme que destaca as esperanças e frustrações dos jovens desse país. "Green Days" mostra o período que antecedeu a eleição e traz entrevistas com jovens comuns, na maioria partidários do candidato oposicionista Mirhossein Mousavi. O filme mistura elementos fictícios com imagens não editadas das manifestações cada vez maiores de protesto dos partidários de Mousavi, vestidos de verde, depois de Mahmoud Ahmadinejad ter sido declarado vitorioso no pleito. Também se vê a repressão brutal movida pelas forças de segurança. Depois de o governo ter imposto restrições à mídia independente e estrangeira, algumas das imagens foram filmadas pelos próprios manifestantes em seus telefones celulares. Uma das imagens mostra a morte de Neda Agha-Soltan, a jovem que virou símbolo dos protestos. O pai da diretora, Mohsen Makhmalbaf, um cineasta respeitado, hoje é porta-voz de Mousavi no exterior, e Hana contou que teve de sair do Irã depois da eleição porque o governo queria prendê-la. Ela terminou de editar o filme em um local secreto da Itália para evitar a censura iraniana. "Ahmadinejad me pode expulsar do Irã, ele pode expulsar a mídia estrangeira do Irã, mas não pode expulsar todas as Nedas e as pessoas que pensam como ela", disse Makhmalbaf à Reuters, falando com a ajuda de intérprete. "Green Days" tece críticas declaradas ao presidente iraniano, que os partidários de Mousavi acusam de ter fraudado a eleição, mas não glorifica os líderes oposicionistas passados ou presentes. "Este não é um filme de propaganda política, feito para apoiar alguém em particular. Também mostro uma minoria de pessoas que defendem Ahmadinejad, para lhes dar a chance de explicar as coisas, mesmo não acreditando nelas", disse a diretora, usando um cachecol verde. Através da personagem principal, uma dramaturga de 20 anos chamada Ava que sofre de depressão, o filme também mostra a desilusão de uma geração que sente que sua voz não é ouvida e suas aspirações estão sendo pisoteadas. Makhmalbaf, que fez seu primeiro curta-metragem quando tinha apenas 9 anos de idade, é uma de pelo menos três diretores iranianos presentes no Festival de Veneza este ano, todos denunciando o que veem como a falta de liberdade em seu país. "Women Without Men", da artista de vídeo Shirin Neshat, faz parte da competição principal e narra a vida de quatro mulheres na época do golpe de 1953. Como Makhmalbaf, Neshat vê as lutas pela democracia e pelos direitos das mulheres como andando de mãos dadas e diz que as mulheres são fundamentais nos protestos de hoje. "Tehroun", de Nader T. Homayoun, mostra o lado sombrio da capital, enchendo-a de prostitutas, mendigos e traficantes de bebês.

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