Prêmio para 'Tropa de Elite' vai projetar 'outro' Brasil, diz Lula

Na Antártida, ele diz que Urso de Ouro recebido pela produção brasileira é um 'muito significativo'

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Por Redação
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A premiação do filme Tropa de Elite foi comemorada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na Antártida, ele disse que o Urso de Ouro recebido pela produção brasileira é um reconhecimento "muito significativo" e que o filme de José Padilha tem "qualidade extraordinária".    Veja Também:   Prêmio é vitória para diretores brasileiros, diz Padilha Urso de Ouro é visto como desforra após críticas Além de 'Tropa', mais três brasileiros levam prêmios em Berlim Opine: Você acha que 'Tropa de Elite' mereceu ganhar? Confira os vencedores do 58º Festival de Berlim  José Padilha fala à TV Estadão sobre ‘Tropa de Elite'  Trailer do filme Tropa de Elite 'Tropa de Elite', um fenômeno do cinema nacional 'Tropa de Elite' bomba na internet até depois de lançado Produtora estrangeira quer Tropa de Elite como minissérie     Para o presidente, o filme premiado deve aumentar a projeção do País no exterior. "Vai projetar os problemas do Brasil, mas também vai projetar as eficiências e vai mostrar para o mundo que o Brasil não é apenas um País com lado ruim. O Brasil tem coisas ruins, o Brasil tem coisas boas, como qualquer país do mundo", disse.   Filme   O roteiro de "Tropa de Elite" foi escrito pelo diretor José Padilha e por Bráulio Mantovani, do filme "Cidade de Deus". O roteiro é uma ficção ambientada em 1997, quando se preparava uma nova visita do Papa João Paulo 2o ao Brasil.   O protagonista é o capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura, um policial que acredita no seu trabalho e tem a chance de uma promoção. Para comandar uma operação de "limpeza" de criminosos, Nascimento passa a chefiar a tropa que sobe o morro e fica cara a cara com os traficantes. O documentário "Standart Operating Procedure", de Errol Morris, sobre as torturas a presos iraquianos em Abu Ghraib, ganhou o Urso de Prata.   Este é o primeiro prêmio de "Tropa de Elite". No Brasil, não participou de nenhuma competição; apenas abriu o Festival de Cinema do Rio no ano passado. Padilha é diretor também do elogiado "Ônibus 174" e escreveu o roteiro de "Tropa" com Bráulio Mantovani, de "Cidade de Deus".   "Tropa de Elite", que teve orçamento de 10,5 milhões de reais, fez manchetes no Brasil antes mesmo de ser lançado. Uma cópia do filme vazou da produtora e acabou pirateada, inundando o mercado negro do país. Estima-se que um milhão de DVDs piratas tenham sido vendidos, além dos 2,47 milhões de espectadores que foram aos cinemas só em 2007, segundo o Filme B, empresa especializada em números do mercado cinematográfico.   Polêmica   "Não emito julgamentos morais", diz Padilha, "mas fiz um filme sobre escolhas. Existem quase 40 mil policiais militares no Rio e 3 milhões de consumidores de drogas. Os consumidores não têm escolha, mas os policiais têm. Eles ganham pouco, estão mal aparelhados e arriscam a vida por nada. As escolhas deles são: corromper-se, omitir-se ou ir para a guerra. Qualquer uma das três é uma m..."   É esta m... que Padilha está colocando na tela, daí a polêmica provocada por seu filme. Qual é a solução para esse imenso nó górdio? Ele diz que não é função da arte apresentar soluções para os problemas que provoca, mas, como cidadão, tem opinião formada. André Ramiro, ator do filme - faz Matias -, comparou, na coletiva realizada na tenda do Festival do Rio, na terça-feira, a pirataria à droga, como atividade ilegal. "A solução seria a descriminalização das drogas", ele diz, mesmo sabendo que não seja coisa fácil e que não se resolve com canetadas. "Você sabia que a cocaína já foi vendida em farmácia no Brasil?", ele provoca.   Violência   O tema e os personagens são explosivos e o método de filmar de Padilha, tornando o filme ‘excitante’, alimenta os críticos que acusam o diretor de manipulação, o que ajudaria a construir a aura ‘fascista’ do filme. O mínimo que se diz de Padilha é que ele glamouriza a violência. O diretor diz que não sabe o que é isso. "Violência é violência, ponto. Não é uma coisa boa, ponto."   Padilha faz uma reflexão interessante sobre o próprio trabalho. "Quando iniciei este filme, era um diretor de documentários, acostumado a trabalhar com uma equipe pequena, de quatro pessoas. Não sabia nem me comportar num set imenso como este, que tinha em torno de 150 pessoas. Como me conduzir? Assumi algumas regras. Queria um diretor de fotografia jovem, porque a pegada do filme deveria ser esta. Ágil, vibrante. Lula Carvalho (filho de Walter Carvalho) é genial, alguém que não seja eu, para não parecer suspeito, precisa dizer isso. Disse ao Lula que queria filmar como se fosse um documentário. Criei um pepino para ele, mas o Lula encarou."   Seu método consistiu em trabalhar sem iluminação dirigida nem marcação dos atores. "No cinemas, em geral, o diretor arma a luz para um tipo de plano, mas se tem de mudar o ângulo não basta mudar a câmera; é preciso mudar a luz, também. Eu não queria fazer assim. Filmei em plano-seqüência e não dei marcação para os atores, mas dizia ao Lula que ele tinha de seguir os movimentos do Wagner Moura. Isso podia ser difícil para o operador, mas não era impossível. Existem cenas em que Lula filma de câmera na mão e sobe na grua sem corte. Os atores também improvisavam muito suas falas. A conseqüência é que, na montagem, não havia dois planos iguais para selecionar o melhor."   Isso é o contrário do estilo hollywoodiano de filmar, mas Padilha está sendo acusado de fazer um filme de Hollywood. "Não sou contra o cinema americano só por ser americano. Existem grandes diretores e filmes que admiro muito. Quando penso que Taxi Driver e Apocalypse Now também foram chamados de fascistas, acho até que estou em boa companhia."

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