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Premiado, 'Um Homem que Grita' recorda guerra no Chade

Mahamat Haroun volta ao tema dos efeitos devastadores da eterna guerra civil no Chade

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Por Redação
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Um raro produto da cinematografia do Chade, coproduzido com a Bélgica e a França, Um Homem que Grita coloca as preocupações políticas e humanistas de um diretor já conhecido dos festivais internacionais, mas inédito até aqui no circuito comercial brasileiro: Mahamat Saleh Haroun. O diretor estudou cinema e jornalismo na França e já apresentou em Cannes Abouna, Notre Père (Quinzena dos Realizadores de 2002) e teve outros de seus filmes (Bye Bye Africa e Darat, Dry Season") premiados no Festival de Veneza, respectivamente em 1999 e 2006. Em Um Homem que Grita, vencedor do Prêmio do Júri em Cannes 2010, Haroun volta ao tema constante de sua filmografia, os efeitos devastadores da eterna guerra civil no Chade, que já dura mais de 30 anos. A questão política é filtrada pela questão humana de um pai, Adam (Youssouf Djaoro), ex-campeão de natação e agora salva-vidas da piscina de um hotel de luxo. De um lado, ele é pressionado pela privatização do hotel, que o empurra para a função de porteiro, deixando o posto para seu próprio filho, Abdel (Diouc Koma). De outro lado, Adam tem pela frente o governo, que o chantageia a pagar em dinheiro pelo esforço de guerra contra os rebeldes ou entregar voluntários para o exército. Adam não tem dinheiro, portanto, deve conformar-se com o recrutamento forçado do próprio filho. Colocando em tintas sutis este conflito moral e ético imenso, Haroun radiografou uma situação dramática comum a vários países africanos, tornando-a não só acessível a plateias internacionais, como rompendo com a virtual invisibilidade da África no mundo do cinema. Uma chave da autenticidade está nas interpretações naturalistas de um elenco predominantemente amador - inclusive o impressionante protagonista, Youssouf Djaoro, que foi premiado pela atuação no Festival de Chicago. Djaoro, aliás, produziu grande impressão já no Festival de Cannes, onde o filme teve sua première mundial, num ano em que a seleção do evento privilegiou narrativas com figuras paternas fortes - duas delas foram os vencedores do prêmio de melhor ator, o espanhol Javier Bardem (por Biutiful) e o italiano Elio Germano (La Nostra Vita). Um ponto forte em Um Homem que Grita é como o diretor Haroun transforma a simplicidade numa ferramenta a favor da história, tornando-a compreensível, sem artifícios, nem pieguice. É o tipo do filme que cresce na memória à medida que o tempo passa.  (Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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