Premiado em Cannes pula cinemas e sai em vídeo

Muito "comercial" para o circuito alternativo, mas nem tanto para o mercado de arrasa-quarteirões, chega às locadoras sem passar pelas salas O General, que deu ao diretor John Boorman o Prêmio de Direção no festival francês de 1998

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Houve um tempo em que ele foi grande, mas John Boorman já havia muito estava fora das cogitações dos críticos quando ocorreu o belo Esperança e Glória em sua carreira. A surpresa é constatar que o cineasta ainda tem fôlego para surpreender. Mais surpreendente ainda é que seu novo e ótimo filme esteja saindo só em vídeo no País, sem passar antes pelas salas. O que está ocorrendo com O General é um sinal (mais um) do empobrecimento do circuito de exibição no Brasil, hoje em dia formatado para as superproduções de Hollywood. Um cineasta ´comercial´ como Boorman não tem o perfil necessário para o circuito alternativo e seu filme também não é blockbuster. Quem perde somos nós, o público. Boorman ganhou o prêmio de direção em Cannes, há dois anos, onde O General foi exibido representando a Irlanda. O vencedor da Palma de Ouro de 1998 foi o grego Theo Angelopoulos, por A Eternidade e um Dia. O próprio presidente do júri, o cineasta Martin Scorsese, que recebeu o prêmio de mise-en-scne de Cannes por Depois de Horas, fez questão de reverenciar o diretor de À Queima-Roupa. Na verdade, Boorman repetiu ali o prêmio que havia recebido por Príncipe sem Palácio, nos anos 70. O novo filme é melhor. O próprio Boorman assina o roteiro baseado na história real de um assaltante de Dublin. Vindo da classe operária, o General, como era chamado, estabelece estratégias para seus roubos, recebe a fidelidade cega dos "soldados" que colaboram com ele e ama intensamente duas mulheres. Brendan Gleeson é o intérprete do papel, aparecendo Jon Voight, hoje mais conhecido como pai da linda e talentosa Angelina Jolie, como o policial determinado a prendê-lo. Há algo de Arsne Lupin (alguns críticos dizem que também de Larry Flint) nesse herói marginal, que restabelece o fascínio do cinema ou, pelo menos, dos diretores surgidos nos anos 60, pelos outsiders. Na melhor cena, o ladrão invade uma casa e assiste a um pequeno teatro da hipocrisia burguesa, quando surpreende o dono em pleno pulo com uma desconhecida. Depois desse filme, Boorman tem crédito para o que fizer. O General (The General). Irlanda, 1998. Direção de John Boorman, com Jon Voight. Filmark. Cor, 124 min.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.