Política e humanismo são temas de Festival

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo sexto ano consecutivo, o Festival de Cinema Judaico traz ao Brasil as obras mais importantes de temática judaica produzidas durante o ano, em todo o mundo. No ano passado, 15 mil pessoas prestigiaram o evento. A conseqüência é o 6. Festival de Cinema Judaico, que ocorre em São Paulo de 5 a 12 de agosto, será levado também ao Rio de Janeiro, no período de 10 a 16. A coordenaria geral do evento é de Glória Manzon. Ela também é a curadora do festival, assessorada por Wanda de Andrade e Daniela Wasserstein. E o próprio evento é uma realização dos departamentos de Cinema, Cultural e Cultura Judaica da Associação Hebraica. Glória coloca o 6.º festival sob o signo da política, por força da retrospectiva dedicada a Amos Gitai, o maior (e mais engajado) diretor de Israel, na atualidade. Com uma ou duas exceções, ela promete trazer a São Paulo a íntegra da obra do diretor, com destaque para seus filmes mais recentes: "Kadosh" e "Kippur". O novo filme de Gitai, "Eden", não poderá ser exibido na cidade porque está sendo reservado para a mostra competitiva do Festival de Veneza, em setembro. Gitai já confirmou que vem ao Brasil. Não apenas a comunidade judaica, mas todo mundo que se interessa pelo processo de paz no Oriente Médio (quem não?), terá a rara oportunidade de discutir as opiniões polêmicas do grande diretor. Gitai é crítico em relação à indústria do Holocausto montada em Hollywood. Não gosta de "A Lista de Schindler", de Steven Spielberg. Deplora a demagogia e o sentimentalismo da maioria das produções hollywoodianas dedicadas ao assunto. Coerente, faz um cinema crítico e ousado. Merece, como poucos, a homenagem que o 6.º Festival de Cinema Judaico lhe presta. Gitai e a política formam um dos pólos do festival. O outro, Glória destaca, é o humanitarismo. Sob o título geral, "Paixão e Coragem", o festival privilegia o tema da solidariedade. São centenas, milhares de anos de anti-semitismo.Mas podem-se (e devem-se, também) contar os casos de apoio e solidariedade, não, talvez, à causa sionista, mas ao povo judeu. Um desses filmes, que passa fora de concurso, é "Kindertransport - Nos Braços de Estranhos". O documentário vencedor do Oscar já foi lançado em vídeo (pela Warner) no Brasil. Glória vai exibi-lo, mesmo assim, porque acha necessário que as pessoas vejam no cinema - e na tela larga da ampla Sala Arthur Rubinstein, da Associação Hebraica, na Rua Hungria 1000 - essa história de crianças que foram retiradas da Alemanha e conseguiram sobreviver ao horror do nazismo graças à rede internacional de solidariedade que montou o Kindertransport. Serão exibidos 30 títulos, entre curtas e longas, documentários e obras de ficção, de seis países. Doze deles integram a mostra competitiva de ficção e outros seis a mostra de documentários. As sessões serão realizadas na Hebraica e no Museu da Imagem e do Som (MIS), equipado com gerador para as sessões noturnas. E haverá sessões vespertinas dos filmes da competição no CineSesc. Além de "Nos Braços de Estranhos", outro filme também será exibido fora de concurso. Você não vai querer perder "Concorrenza Sleale", que o grande Ettore Scola dedicou à questão judaica na Itália. E existem os filmes da competição, cujo júri, este ano, é integrado por Leon Cakoff, da Mostra Internacional de Cinema São Paulo. "O Arranjo", de Joseph Cedar, foi o grande vitorioso dos prêmios da Academia Isaelense de Cinema para os melhores de 2000. Ganhou como melhor filme, ator, atriz, roteiro, montagem e fotografia. A história, que mistura amor e fanatismo religioso no convulsivo panorama do Oriente Médio, é narrada com força e o filme tem cenas de tirar o fôlego, às vezes pelas delicadeza (o jogo de sombras que aproxima os amantes), às vezes pela violência (o desfecho sangrento). E "Herói Acidental", de Jan Hrebejk, é uma produção da República Checa sobre a luta de uma família para permanecer unida durante a 2.ª Guerra. Há mais: "O Espírito", produção da Polônia e da República Checa baseada na peça "O Dibuk", de Szymon An-Ski, editada no Brasil, sobre fantasma errante que procura corpo para reencarnar. Variação de "Romeu e Julieta", o filme tem direção da ex-assistente de Andrzej Wajda, Agnieszka Holland. Embora ela tenha tendência a fazer filmes bombásticos, é diretora de obras como "Os Filhos da Guerra", que causou impacto por sua história do garoto judeu que esconde sua condição para sobreviver ao Holocausto, mente para viver e termina virando a representação do novo homem ariano, o que confirma o absurdo das teorias racistas. Babilônia no Brooklyn, de Marc Levin, é outra curiosidade da programação. Ou você não quer ver o musical baseado no cult "Amor, Sublime Amor" ("West Side Story"), só que, em vez de chicanos, os personagens são agora judeus? O Festival de Cinema Judaico fica a cada ano maior e mais importante. Já faz parte.

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