"Perdemos o Godard brasileiro", dizem cineastas

Cineastas como Cacá Diegues, Ugo Giorgetti, Carlos Reichenbach, o crítico Ismail Xavier, todos se manifestam sobre morte de Rogério Sganzerla

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Por Agencia Estado
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Ugo Giorgetti, cineasta: "Eu não tinha contato pessoal com Sganzerla, mas sinto muito sua morte, que considero simbólica. Como cineasta, ele representa um tipo de cinema que hoje é apenas um fantasma de outros tempos. Atualmente o cinema brasileiro está tomado por uma pobreza absurda, tudo cada vez mais igual e, pior, igual na mediocridade na maneira abjeta de cortejar o público, um cinema descompromissado com qualquer idéia de investigação ou reflexão. Sganzerla era uma exceção nesse panorama, um cacto nesse deserto algo de diferente e importante que está indo embora." Arrigo Barnabé, músico: "Trabalhei com ele entre 1984 e 1985. Convivemos bastante naquela época. Mas gostaria de ter trabalhado mais com ele. O Sganzerla era uma pessoa muito bondosa. Quando ele me mostrou O Bandido da Luz Vermelha, fiquei encantado. Foi uma das melhores coisas que já vi. Lembro-me que ele era apaixonado pela história de Orson Welles no Brasil. Eu gostava muito dele como pessoa. Uma pena." Paulo César Saraceni, cineasta: "É muito triste. Ele era um grande cineasta, um grande amigo. Sem dúvida, um dos maiores cineastas brasileiros, um grande crítico, um profundo conhecedor do cinema. Ele adorava Orson Welles e adotou seu estilo em seus filmes, mas também influenciou muita gente. Sempre acompanhei sua obra e acho uma grande perda para cinema brasileiro, ainda mais neste momento, em que o cinema toma um rumo que eu não gosto, seguindo por uma lado bem comercial. Sganzerla era um amante da arte cinematográfica, uma esperança de mudança nestes tempos." Cacá Diegues, cineasta: "Rogério Sganzerla foi um dos cineastas mais importantes do cinema brasileiro. Tem certos filmes que são marcos de luz na nossa história. Este é o caso de seu filme O Bandido da Luz Vermelha. Pode-se falar do cinema nacional antes e depois desse filme. O que caracteriza os trabalhos de Sganzerla é fato de o cinema parecer ser inventado a cada novo filme dele." Jorge Bodanzky, cineasta: "Rogério Sganzerla antecedeu a minha geração, sua presença foi marcante e, para os mais jovens, ele foi um verdadeiro ícone. Tenho muito respeito por sua história, por seu trabalho." João Batista de Andrade, cineasta: "Conheci o Rogério no começo de carreira. Lembro-me dele montando "O Bandido da Luz Vermelha" em São Paulo. Ele sempre foi muito anárquico, racional mas extremamente talentoso. Muitas vezes os técnicos tinham dificuldade em trabalhar com ele, por ser tão inquieto e estar sempre inventando novas coisas. Lamento bastante. Mas ele nos deixa seu talento impresso nos filmes." Carlos Reichenbach, cineasta: "Tenho a impressão que esses últimos meses marcam um período negro para o cinema brasileiro, mais especificamente para o cinema de autor. Perdemos três personalidades: Walter Hugo Khouri, Jairo Ferreira e agora o Sganzerla. Pessoas importantes dentro do cinema. Sganzerla tem um importante papel na história, no desenvolvimento da linguagem do cinema nacional. Perdemos o Godard brasileiro. Todo o cinema experimental ou cinema de invenção é tributário a ele, o realizador de dois marcos O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos." Ismail Xavier, crítico: "Um dos maiores talentos cinematográficos brasileiros. Eu o conheci em 1966, quando era um brilhante crítico do Jornal da Tarde. Um jovem crítico, que influenciou toda uma geração. Como cineasta reuniu em O Bandido da Luz Vermelha todas as inquietações culturais da época. Sabia dialogar com o melhor do cinema, como Orson Welles e Godard. Tinha um olhar aguçado para a cidade, uma intuição rara no cinema e um senso agudo para a montagem. Ele filmava como quem respira." Ivana Bentes, autora de "Cartas ao Mundo: Glauber Rocha: "Sganzerla vai continuar influenciando novas gerações de cineastas porque seus filmes têm um frescor juvenil raro, especialmente O Bandido da Luz Vermelha. Anárquico, ele foi também um grande montador, conseguindo trabalhar com poucos recursos e driblar a produção, eterno problema de nosso cinema. Sua fixação em Welles, portanto, não foi casual. Sganzerla parecia estar sempre fazendo o mesmo filme, mas mantendo a rebeldia como marca." Norma Bengell, atriz e cineasta - "Tive o prazer de fazer um filme com ele, Abismu - O Abismo (1977). Achava que Sganzerla era um dos melhores cineastas do País, um homem de uma cultura cinematográfica rara. Foi mais uma perda para o cinema brasileiro. Que Deus o receba de braços abertos."

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