''Pequeno Segredo' tem a cara do Oscar', diz diretor David Schurmann

Cineasta respondeu a questões do 'Estado' no domingo, 11, antes de seu filme ser escolhido como o brasileiro que vai disputar a estatueta

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Por Amilton Pinheiro
Atualização:

O diretor David Schürmann respondeu a algumas questões do Estado no domingo, 11, antes de seu filme ser escolhido como o brasileiro que vai disputar o Oscar 2017. Pequeno Segredo - Um Amor Maior Que a Vida deve estrear nos cinemas brasileiros no dia 10 de novembro. O filme conta a história real de Kat, menina adotada pela família em uma de suas viagens, e que era portadora do HIV.

A sinopse divulgada com o filme é a seguinte: "O longa-metragem de ficção, baseado na história real de Kat Schürmann e que também inspirou o best-seller homônimo de Heloísa Schürmann, revela a força do amor no destino de duas famílias. Ao adotar Kat, o casal Schürmann convive com a delicada escolha de manter ou não um segredo que vai além da adoção".

Cena de ''Pequenos Segredos'' Foto: Reprodução

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Veja os principais trechos da entrevista com David Schürmann:

Você tinha alguma esperança que seu filme fosse escolhido?

Sim, porque acredito no filme e que ele tem as qualidades e temáticas que falam bem com o Oscar. O filme também “nasceu” naturalmente com um DNA para Oscar. Temos como roteirista Marcos Bernstein, que teve um filme indicado para o Oscar, a diretora de arte Brigitte Broch, que ganhou um Oscar, e Antonio Pinto, nosso maestro, cujo filme Amy venceu um Oscar no ano passado. Mas isso nunca foi o foco, sempre nos concentramos em fazer um bom filme. O Oscar parecia um sonho distante. Quando o filme ficou pronto e começamos a projetá-lo para distribuidores, produtores, agentes de vendas, aqui no Brasil e internacionalmente, ouvíamos a mesma coisa “esse filme é a cara do Oscar”. Acabamos acreditando nisso e lutamos para que estivéssemos no páreo. 

O seu filme é baseado numa história real, que aconteceu com sua família. Quais foram os desafios de filmar uma história tão íntima? O que seus pais acharam do filme? Quais as principais mudanças do roteiro em relação aos fatos que ocorreram?

O filme é de fato muito íntimo. Como dirijo os filmes documentários sobre a minha família há muitos anos, aprendi a me distanciar para ter um olhar objetivo sobre a história. Às vezes, as pessoas se assustavam quando tratava o filme como se fosse uma história de outras pessoas e não da minha família, fazia isso para não perder a objetividade da visão. Já pelo outro lado, por conhecer a história tão bem, consigo trazer uma verdade intrínseca para o filme.O maior desafio foi ter que escolher o que contar, já que não dá para contar a história de toda uma vida em 1h40. Meus pais não assistiram ao filme nem leram o roteiro, eles sempre me deram liberdade e respeitaram a minha visão para contar a história da forma que quisesse, existe uma confiança, e, acima de tudo, uma consideração deles com a arte. Quero que eles assistam na pré-estreia, rodeado de amigos. Não busco a aprovação deles, mas espero que gostem. Como temos que contar mais de 14 anos de vida em 1h40, mudei algumas coisas importantes no filme, por exemplo, a participação dos demais membros da família (meu pai e eu e meus irmãos) fomos todos muito presentes na vida da Kat, mas tive que fazer escolhas, e com isso foquei em Heloisa (minha mãe) e Kat. Mudei também algumas locações e o “tempo” de algumas coisas. Mas o filme é quase todo factual e próximo da história real. 

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Em relação à polêmica em torno das críticas que um dos jurados fez ao posicionamento político do diretor Kleber Mendonça Filho, de Aquarius, e que gerou no meio cinematográfico toda essa celeuma, que questionou a legitimidade da comissão, o que pensa a respeito? Se questionarem a legitimidade da escolha em torno do seu filme, o que você tem a dizer?

O que busco é focar no filme e os méritos que o levam a conversar muito bem com uma premiação como o Oscar. Fiquei longe de polemizar, mas busquei garantir que nosso filme estivesse participando de igual para igual com todos os demais. Kleber tem todo direito de protestar, como ele quiser, e de usar as polêmicas para gerar ainda mais mídia e público para seu filme. Tenho um grande respeito por ele, como cineasta e colega, e acho Aquarius lindo. Quando o tema do Oscar se tornou algo político, isso foi uma pena, pois, em minha opinião, acabou desmerecendo todos os artistas e equipes dos demais filmes que estavam concorrendo. Não concordo em tornar a escolha em uma ditadura e todos falarem que só existe uma opção, achei perigoso colocarem o comitê votante contra a parede, a ponto de pessoas se retirarem, porque com isso faltamos com a democracia. Não tenho gerência sobre a escolha do comitê e acredito que tínhamos pessoas de altíssimo gabarito, experiência e competência para escolher e decidir, mesmo que existisse uma pessoa polêmica; é importante lembrarmos que eram 9 votantes. Quem assistiu a Pequeno Segredo (alguns jornalistas e pessoas da indústria, aqui e no exterior) concorda que ele é um concorrente natural ao Oscar. Acredito no filme e, por isso, fui enfático em sempre defendê-lo antes da votação. Uma vez que as pessoas veem o filme, tenho certeza que vão concordar com a escolha do comitê, Pequeno Segredo tem a “cara do Oscar”.

Seu filme já nasceu internacionalizado, com a equipe formada por alguns estrangeiros e o longa sendo em parte falado em inglês. Acha que isso pode ajudar na divulgação do seu filme nos Estados Unidos?

Sim, o filme tem no seu DNA uma tendência natural a ser internacional, é um filme brasileiro que funciona para exportação. Um filme com 99% da equipe brasileira e, quando falo brasileira, estou me referindo ao Brasil todo. Tínhamos pessoas de mais de 10 Estados trabalhando. Os gringos se tornaram brasileiros e ajudaram a trazer uma visibilidade internacional importante. Temos também grandes profissionais brasileiros, como Antonio Pinto, que fazem muitos filmes em Hollywood, o que nos ajudará muito na campanha internacional. O idioma não acho algo determinante. O que fará diferença são as conexões internacionais, das pessoas que trabalharam no filme, assim como das pessoas que já têm um carinho especial, com Barrie M. Osborne.

Caso fique entre os cinco finalistas para o Oscar de filme estrangeiro, você acha que seu filme tem chances de trazer, finalmente, o Oscar para o Brasil?

Sim. Se ficarmos entre os cinco finalistas, já será uma grande vitória e terei a sensação de “missão cumprida”, mas também acredito que podemos ir mais longe, temos um filme que poderá trazer a estatueta. 

Fale um pouco de sua carreira de cineasta, o que o levou a querer ser diretor?

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Minha paixão pelo cinema começou desde pequeno, quando ia ao cinema, que era a única forma de entretenimento, enquanto crescia a bordo do veleiro. Não tínhamos vídeo nem TV, ou líamos ou íamos ao cinema. Quando as luzes se apagavam na sala de cinema, eu me transportava para o outro mundo na tela. Sempre gostei de contar histórias. Decidi que queria contar as minhas histórias e, quando tinha 13 anos, convenci meus pais a me dar de aniversário uma câmera. Não tínhamos muitos recursos na época, mas quando chegamos ao Panamá, um porto livre (onde as coisas são mais baratas), ganhei minha primeira câmera 8mm. Filmei documentários enquanto navegava pelo mundo com minha família e pequenos curtas em que usava meu irmão mais novo como ator. Desembarquei na Nova Zelândia aos 16 anos, determinado a estudar aquela paixão, que era o cinema. Assim que me formei, comecei a trabalhar com 19 anos como diretores de um programa de TV. Na época, o dinheiro que ganhava financiava meus curtas-metragens 16mm. Após três anos, voltei a filmar os documentários da Família Schürmann pelo mundo, os que passavam no Fantástico da TV Globo. Na sequência, voltei a viver no Brasil e lancei meu primeiro documentário longa-metragem, O Mundo em Duas Voltas. O filme foi lançado mundialmente e ganhou alguns prêmios internacionais. Sempre quis experimentar o mundo da ficção e fiz meu primeiro experimento com um projeto transmídia de documentário de ficção, chamado Desaparecidos. Nessa época, já estava desenvolvendo Pequeno Segredo, que seria minha entrada definitiva nos filmes de ficção. 

Veja o trailer do filme:

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