Quincas, o homem que escolheu ser feliz. Foto: Christian Cravo/Divulgação
Luiz Zanin Oricchio - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Há críticos que consideram A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água o melhor texto de Jorge Amado, ao lado de Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo Curso. Vasco Moscoso é um romance, de quase 300 páginas, contando a história do navegante imaginário (ou será que não?), e suas aventuras, vividas ou sonhadas pelos mares do mundo. Quincas é um relato relativamente breve, uma novela de 120 páginas, uma encomenda da revista Senhor. "Daí o formato sintético, tão diferente do Jorge Amado barroco e oceânico a que nos acostumamos", analisa o ator Paulo José, intérprete de Quincas nessa adaptação feita pelo cineasta baiano Sérgio Machado (o mesmo de Cidade Baixa) e que chega hoje aos cinemas.
A história é uma delícia e o filme preserva seu sabor original. Joaquim é o funcionário público modelo, casado com uma megera e pai de uma filha chata. Tudo, aliás, é tédio em sua vida: do trabalho aos colegas, dos parentes à família. E assim toca a existência até o dia em que resolve mandar tudo às urtigas e se transformar em Quincas, o cachaceiro mor, o boêmio das noites de Salvador, o rei dos bordéis e das mesas de jogo, o amigo dos mestres de capoeira, dos malandros e dos marinheiros do cais do porto. Enfim, é um personagem que desiste da chatice da existência certinha encontra a alegria em meio à marginália, lá onde Jorge Amado pensa residir a vida mais autêntica e feliz. A vida antiburguesa por definição.