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Paulínia tenta se firmar como 'Hollywood brasileira'

Distrito de Campinas cria projeto para produções cinematográficas captarem recursos e investirem na cidade

Por Bruna Fioreti
Atualização:

O termo é forte, há quem fuja dele, mas não tem jeito. Grande parte dos 70 mil habitantes de Paulínia, um distrito de Campinas que fica a 118 quilômetros de São Paulo, já ouviu gente graúda dizer que a terra em que pisam será em breve conhecida como a "Hollywood brasileira". Bem guardadas as proporções, sonho, planejamento e potencial não faltam para ao menos tentar.   A reportagem do JT foi conhecer de perto que pedacinho do interior paulista é esse para onde migram diretores, produtores e atores com câmeras nas mãos, idéias na cabeça e nem sempre muito dinheiro no bolso. Munida da renda que consegue com o petróleo, fonte de 70% da receita paulinense, e de uma estratégia de marketing bem costurada, a Secretaria de Cultura da Cidade criou em abril o projeto Paulínia Magia do Cinema. Desde então, produções cinematográficas passaram a captar recursos na cidade sob a prerrogativa de investir pelo menos 40% do arrecadado no comércio e nos serviços locais.   Criou-se então um ciclo virtuoso repetido pelos envolvidos no projeto e que virou quase um "mantra" na boca do povo: o petróleo é um recurso finito e precisa ser aproveitado enquanto ainda gera divisas para criar a nova economia: a da sétima arte. Houve vozes dissonantes. "Elas, porém, foram aos poucos convencidas da seriedade do Magiado Cinema conforme os frutos começaram a aparecer", garante a secretária de Cultura, Tatiane Stefani Quintelli.   Os frutos vieram logo que os nove primeiros filmes previstos para rodar nas imediações de Paulínia foram escolhidos. Entre eles estão em ação nas locações da cidade Topografia de um Desnudo, estrelado por Lima Duarte e Ney Latorraca, e Hotel Atlântico, com Lázaro Ramos e Mariana Ximenes. Na lista ainda aparece o remake de Menino da Porteira, protagonizado pelo cantor Daniel.   O paulinense mais deslumbrado não esconde o orgulho com sua condição de ‘hóspede’ de artistas. Moradoras da fazenda onde foram gravadas cenas de Topografia, Solange Almeida de Souza, de 17 anos, e Rosane Leila Rodrigues, de 15, viram de camarote as cenas de Lima Duarte. Quando tiveram a chance, pediram autógrafo. As duas dizem que os bastidores de como se faz um filme "vão ficar na memória." Outros moradores levam suco e lanche para o elenco, parte da estratégia do projeto Magia.   O plano de Paulínia é ambicioso. Inclui prédios localizados em uma área que lembra um condomínio. Bem próximos estão a sede do projeto, uma escola, um estúdio e um teatro ainda em construção. Mais quatro estúdios e um museu serão levantados nos arredores.   No bojo das construções está a proposta de assessorar cineastas em todas as suas necessidades. Tudo é pensado: a escola formará técnicos em várias áreas relativas ao cinema; o teatro sediará eventos grandes, como a Mostra Anual de Paulínia; estúdios servirão para concentrar outras etapas das filmagens que, hoje, precisam ser feitas fora.   Por enquanto, o carro-chefe de Paulínia é a gravação de cenas externas. "Os diretores adoram o tempo bom que sempre faz aqui", conta Tatiana. Roberto Moreira, um dos cineastas cujo filme Condomínio Jaqueline foi contemplado pelo projeto, concorda. Mas acrescenta que, além do céu azul, conta a boa infra-estrutura. "O mais difícil é ter esse complexo para facilitar o dia-a-dia. Não conheço nenhuma outra cidade no Brasil que faça isso."   Distrito de Campinas emancipado há 42 anos, Paulínia é daquelas cidades com poucos carros nas ruas. Plana, com cachoeiras e áreas rurais de fácil acesso, tem ainda a seu favor o fato de estar muito perto da Capital.   A contrapartida do investimento para a cidade, prevista na lei que concede o benefício fiscal, vem a calhar para moradores que sabem aproveitar o novo mercado. Os sócios Collins Eduardo Maschio, de 34 anos, e Leonardo Gonçalves Bastos, de 33, ofereceram preços baixos para seu restaurante, o Saboremio, ficar responsável por fornecer comida para o elenco de Hotel Atlântico, de Suzana Amaral. "Precisamos fazer uma estrutura onde as gravações estiverem e fornecer comida o tempo inteiro", conta Leonardo. "Começamos a atuar nesse meio; espero ser escolhido para abastecer os próximos filmes."   A certeza de que outros longas virão não vem apenas da lista de produções agendadas. De acordo com a secretária de Cultura, cineastas de outros longas já começam a procurá-la para fechar parcerias, incluindo equipes estrangeiras. No País, o projeto conta com o privilégio de ter como "padrinho" o premiado Fernando Meirelles. Blindness, seu novo filme, teve recursos captados pelo programa de Paulínia. E foi a única exceção: apesar de contar com a estrutura e figurantes da cidade, foi rodado na Capital.

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