Paul Verhoeven volta a Cannes com história de freiras lésbicas

O cineasta pouco convencional, de 82 anos, concorre pela terceira vez à Palma de Ouro, desta vez com a história da irmã Benedetta, uma mulher convicta de que está em comunicação direta com Jesus

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Por François Becker e Esther Sánchez
Atualização:
O diretor Paul Verhoeven chega para a exibição de 'Benedetta' durante o 74º Festival Anual de Cannes, em Cannes, França. Foto: EFE/EPA/IAN LANGSDON

CANNES, FRANÇA - Instinto Selvagem, Elle e agora Benedetta. O holandês Paul Verhoeven volta à principal competição de Cannes com um thriller provocador sobre uma freira lésbica que escandaliza a Itália do século 17. 

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O cineasta pouco convencional, de 82 anos, concorre pela terceira vez à Palma de Ouro, desta vez com a história da irmã Benedetta, uma mulher convicta de que está em comunicação direta com Jesus.

Graças aos milagres que parece realizar, a freira progride dentro de sua comunidade, na Toscana. Quando Bartolomea, uma mulher pobre e estuprada por seu pai, chega ao convento, uma paixão intensa e carnal nasce entre as duas freiras.

Em suas visões, "no início, Jesus diz não ao sexo lésbico e, no final, diz 'vá em frente!'", contou à AFP o diretor, que já abalou La Croisette em 1992 com Instinto Selvagem, estrelado por Sharon Stone, e em 2016 com Elle, com Isabelle Huppert, sobre uma tortuosa mulher estuprada.

Benedetta, filmado em francês, tem um elenco totalmente gaulês, liderado por Virginie Efira no papel principal e Charlotte Rampling como madre superiora.

Fatos reais

O diretor, conhecido por seu cinema violento, não fez de Benedetta uma exceção e o filme apresenta assassinatos, suicídios e decapitações. 

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Ele também ousa com símbolos religiosos, como o brinquedo erótico artesanal esculpido pelas amantes a partir de uma estatueta da Virgem. Esse detalhe foi revelado pela verdadeira Bartolomea, já que a história é inspirada em um processo real contra uma freira lésbica ocorrido na Idade Média e cujos registros foram preservados nos arquivos de Florença e redescobertos pela historiadora americana Judith C. Brown.

"A história dá uma ideia de como as pessoas viam os relacionamentos lésbicos em 1620 e pode dar uma ideia do caminho percorrido até agora. Progredimos na Europa Ocidental", disse o veterano diretor à AFP, comentando que ele teria "problemas" de filmar nos Estados Unidos.

A trama se passa durante uma epidemia de peste e as imagens de pacientes moribundos nas ruas, de pessoas com medo de se infectar e de cidades que fecham suas portas lembram a atual crise de saúde, embora o filme tenha sido filmado antes da pandemia.

"Coincidências como essas são sempre um mistério", comentou o cineasta sobre a semelhança da situação.

Verhoeven, que nunca conquistou a Palma de Ouro, é um dos pesos pesados da sétima arte desta edição. Concorre, entre outros, com o italiano Nanni Moretti, o francês Jacques Audiard e o tailandês Apichatpong Weerasethakul, que já detêm o prestigioso prêmio.

'La Fracture', também sobre lésbicas

O outro filme em competição exibido nesta sexta-feira será La Fracture, da francesa Catherine Corsini, um drama também com um casal de lésbicas e a crise dos "coletes amarelos" como plano de fundo. Corsini é uma dos quatro diretoras que disputam o maior prêmio.

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Durante o dia, também acontecerá outro dos momentos mais esperados da mostra: a master class do ator americano Matt Damon.

Na estreia mundial, na véspera, de Stillwater de Tom McCarthy (Spotlight), em que Damon interpreta um pai que viaja para Marselha (sudeste da França) para visitar sua filha presa, a estrela de Hollywood distribuiu autógrafos no tapete vermelho do festival, para aplausos e gritos de seus fãs.

No momento, dos 24 filmes em disputa pela Palma de Ouro, cinco já foram exibidos, entre eles o musical Annette, do francês Leos Carax, estrelado por Adam Driver e Marion Cotillard; Tout s'est Bien Passé, do também francês François Ozon, sobre suicídio assistido; e O Joelho de Ahed, em que o israelense Nadav Lapid denuncia a censura ao governo de seu país.

Na noite de quinta-feira, foi apresentado The Worst Person in the World, o norueguês Joachim Trier, um retrato da geração do milênio que foi bem recebido pela crítica.

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