Pasolini volta, em DVD, para assombrar os moralistas

Trilogia da Vida, formada por Decameron (1970), Os Contos de Canterbury (1971) e As Mil e Uma Noites (1974) ganham edição em DVD

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Por Agencia Estado
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Cinco meses antes de sua morte, no dia 15 de junho de 1975, o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) renegou sua Trilogia da Vida, uma exaltação da sexualidade primitiva e bárbara, lançada agora em DVD pela Playarte. Pasolini escreveu que já não suportava a visão dos corpos e órgãos sexuais de Decameron (1970), Os Contos de Canterbury (1971) e As Mil e Uma Noites (1974). Para ele, o mundo burguês não comportava mais a inocência desses corpos. Eles haviam se transformado em objetos de consumo de uma sociedade falsamente tolerante, que viu nos filmes de Pasolini apenas mais três produtos para o mercado pornográfico. Com efeito, a popularidade da trilogia gerou dúzias de imitações baratas desses três filmes, lançados simultaneamente ao primeiro realizado por Pasolini, Accatone - Desajuste Social (pela Versátil Home Video). Entre Accatone (1961) e a Trilogia da Vida, houve O Evangelho Segundo São Mateus (Il Vangelo Secondo Mateo, 1964, também lançado pela Versátil), provavelmente o melhor e mais comovente filme sobre a paixão de Cristo. Essa foi a principal razão para alguns críticos, na época da abjuração, suspeitarem de uma "conversão" do herege Pasolini, então ocupado em concluir seu amargo testamento cinematográfico, Saló - Os 120 Dias de Sodoma, sobre a perenidade do fascismo. Nem Pasolini se converteu, nem o mundo mudou. A unificação européia levou à uniformização cultural profetizada por ele há 30 anos. Hoje, a Trilogia já não ameaça ninguém, nem mesmo católicos ortodoxos.

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