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Com ar documental, 'Party Girl' aborda o sexo na terceira idade

Sem nenhum tipo de glamourização, filme mexe com uma das últimas fronteiras tabus do cinema

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Party Girl mexe com uma das últimas fronteiras tabus do cinema – o sexo na terceira idade. Já se aceita praticamente de tudo na tela grande, a sexualidade humana em toda a sua efervescente diversidade, poses mais ou menos explícitas, “desvios” e etc. Mas ainda se espera que velhinhos e, sobretudo velhinhas, conheçam seu lugar e se comportem. Sexo é coisa de jovem, de gente com corpo perfeito, parece dizer uma regra não escrita do cinema. Assim, quando a sexualidade madura dá as caras, é filmada com todo o pudor e distanciamento. Provavelmente para não chocar muito as plateias, majoritariamente jovens. 

Bem, Party Girl, de Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis, tem como personagem principal Angélique (Sonia Theis), uma hostess de boate amante dos homens, do álcool e da farra, e que não parece ter a menor intenção de se aposentar e mudar de vida. Isso aos 60 anos. Ela vive assim até que um cliente (hostess é um eufemismo) lhe propõe algo por completo inesperado – que se case com ele. Angélique fica tentada a aceitar e a história é essa, a da recondução da velha cortesã ao redil da normalidade familiar. 

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O filme tem ar documental. É interpretado pela própria Sonia Theis, filha de um dos realizadores e personagem real da história. Esta se passa na Alsácia, região francesa fronteiriça com a Alemanha. Daí alguns diálogos mesclarem palavras alemãs, embora o francês seja dominante. Todos esses ingredientes dão sabor de verdade ao filme e mais ainda o estilo de filmagem, com a câmera rente aos rostos dos personagens, sem disfarçar-lhes as rugas da idade e as imperfeições da vida vivida. 

Party Girl é filme de gente e não de astros e estrelas. Não há nele nenhum tipo de glamourização ou de tentativa de embelezamento. Nem físico nem de relacionamento entre personagens. Aparecem com toda intensidade os conflitos entre Angélique e os filhos e entre ela e o marido que, apesar de frequentador de prostitutas, deseja um casamento normal. Mas o que é a normalidade? Pode-se falar em comportamento normal (isto é, domesticado e estatístico) quando o assunto é o impulso sexual humano, errático por definição?

É bom que se diga que Party Girl, como sua personagem, está longe da perfeição. Contém algumas oscilações e certas partes são melhores que outras. O amadorismo, que às vezes traz o frescor, também comporta o risco da irregularidade. Melhor isso que filmes pasteurizados, anódinos, que não erram e também não acrescentam nada. Este fala da humana imperfeição, com tudo o que ela contém de sofrimento, mas também de beleza.

Assista ao trailer:

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