Para conferir se Guimarães Rosa deu certo nas telas

Retrospectiva no Centro Cultural São Paulo traz obras do autor de Sagarana adaptadas ao cinema

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Por Agencia Estado
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Mire veja: é tempo de falar em Guimarães Rosa. Há 60 anos era lançado o livro de contos Sagarana e há 50 a sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas. Hoje, Rosa, é uma celebridade do mundo das letras. Suas adaptações para o mundo audiovisual não causaram o mesmo sentimento de unanimidade. Uma boa ocasião para conferir o quanto do universo rosiano pôde ser transposto para o cinema acontece na mostra promovida a partir de hoje no Centro Cultural São Paulo. Na retrospectiva exibe-se tudo de Rosa que chegou ao mundo das imagens em movimento. E mais alguns dos documentários produzidos sobre o escritor. Aliás, no primeiro dia, a programação se concentra exclusivamente nesses filmes de caráter introdutório: A João Guimarães Rosa, de Roberto Santos, Eu Carrego o Sertão dentro de mim, de Geraldo Sarno, Veredas de Minas, de Fernando Sabino e David Neves, e Livro de Manuelzão, de Angélica del Nery. As obras de ficção começam amanhã. E, entre elas, temos A Terceira Margem do Rio, de Nelson Pereira dos Santos, Cabaret Mineiro, de Carlos Alberto Prates Correa, Sagarana, o Duelo, de Paulo Thiago e A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos. São os longas-metragens de ficção, distribuídos ao longo de toda a mostra. Entre eles, há a obra-prima, A Hora e Vez de Augusto Matraga, a única das adaptações aprovada diretamente pelo próprio Rosa. Ele, que já vinha escaldado pela versão "hípica" do romance Grande Sertão: Veredas (ausente da mostra), dos irmãos Santos Pereira, reconciliou-se com o cinema ao ver esse conto de Sagarana muito bem traduzido em linguagem cinematográfica por Roberto Santos. Um relato emocionante, filmado com inspiração, com magnífico trabalho de ator de Leonardo Villar, e embalado pela trilha sonora assinada por Geraldo Vandré. É de arrepiar. Do mesmo livro de contos, Paulo Thiago tirou Duelo, talvez a história mais rica em possibilidades narrativas, uma vez que se trata de um desafio entre dois inimigos, travado ao longo do tempo, no fundo do sertão, e que envolve tanto uma estratégia quanto uma tática de batalha. Infelizmente, o resultado ficou aquém das possibilidades do texto. Já Nelson Pereira dos Santos tentou outro caminho em A Terceira Margem do Rio - reuniu o conto que leva esse título, com outros constantes do livro Primeiras Estórias. Personagens de um conto participam de outro e assim por diante. Trata-se, desse modo, de uma leitura livre, tentativa de apreender o espírito da obra de Guimarães, mais do que verter uma de suas histórias em particular. Pode-se discordar do resultado (que de fato oscila demais), mas é uma iniciativa digna, feita em momento muito difícil do cinema brasileiro, circunstância que aparece sem disfarces na tela. De Grande Sertão: Veredas, mesmo, teremos apenas o primeiro capítulo da minissérie para TV, dirigida por Walter Avancini, com Tony Ramos como Riobaldo e Bruna Lombardi no papel de Diadorim. Nonada. João Rosa: 60 Anos de Sagarana - 50 Anos de Grande Sertão Veredas. Hoje, 16 h, A João Guimarães Rosa (1968), de Roberto Santos, Eu Carrego o Sertão dentro de mim (1980), de Geraldo Sarno, Primeiro Capítulo da Minissérie Grande Sertão: Veredas (1985), de Walter Avancini; 18 h, Veredas de Minas (1975), de Fernando Sabino e David Neves; Outras Estórias (1999), de Pedro Bial; 20 h, Livro de Manuelzão (2003), de Angélica Del Nery; Sagarana, o Duelo (1973), de Paulo Thiago. Centro Cultural São Paulo. Sala Lima Barreto (110 lug.). Rua Vergueiro, 1.000, 3277-3611. 3.ª a dom. Grátis (retirar ingressos 1 h antes). Até 21/5

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