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Overdose cinéfila

Por Alex Xavier
Atualização:

Um amigo me chamou de folgado quando contei que passaria um mês avaliando os cinemas da cidade. "Vai ficar só vendo filmes", disse o invejoso. Mas acho que a maioria das pessoas não faz idéia das provas pelas quais eu tive de passar. Você já pensou em ver o mesmo filme 14 vezes seguidas? A idéia era conhecer o que cada cinema tinha de melhor. Portanto, estipulamos que a sala visitada seria sempre a maior de cada complexo (com exceção do Kinoplex, onde a segunda maior é a que tem o selo THX). E, em janeiro, o filme que monopolizou as grandes salas foi ‘Eu Sou a Lenda’, com Will Smith. Posso apontar no mapa de Nova York o caminho que ele percorre de carro na abertura do filme. Sou capaz de afirmar que o DVD que ele coloca de volta na prateleira de uma videolocadora, lá pelos 20 minutos, é ‘Os Bons Companheiros’, de Martin Scorsese. Descobri até os erros de gravação que sempre me passam despercebidos. Fui a 46 cinemas, em geral duas vezes por dia, até sábados e domingos. E no fim de semana de estréia de ‘Eu Sou a Lenda’, cansei de ver o meu amigo - sim, já posso chamá-lo assim - Will conversar com sua cadela Sam. Comecei até a brincar de adivinhar como os demais espectadores reagiriam nas cenas de susto, que eu já havia decorado. Também não consigo tirar da cabeça a música ‘Outra Vez’, na versão que Selton Mello canta em ‘Meu Nome Não É Johnny’ (vi seis vezes). Comparei a versão legendada (duas) com a dublada (outras duas) de ‘A Lenda do Tesouro Perdido 2’. Na quarta vez que vi ‘A Culpa É do Fidel’, passei a odiar a protagonista, uma menina-prodígio. Mas nada foi pior que minha única sessão de ‘Xuxa em Sonho de Menina’, no Santana. Imagine um homem barbado comprando ingresso para ver um filme que só atraía garotinhas. Foi constrangedor sentir o olhar das mães, preocupadas que eu fosse algum maníaco.

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