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Ovação reverencia ‘Boyhood’, em Berlim

Já em ‘No Man’s Land’, Ning Hao põe a China em clima de faroeste

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Richard Linklater já ganhou o Urso de Prata em Berlim – há 20 anos – pelo primeiro filme da série interpretada por Ethan Hawke e Julie Delpy, Antes do Amanhecer. De volta à competição, ele poderá bisar seu Urso prateado e até ganhar o de Ouro. Nenhum filme foi mais aplaudido que Boyhood<, que renova a experiência dos demais trabalhos de Linklater com Hawke. O ator faz o pai divorciado de Mason e Samantha. Ele começa o filme brigando com a ex-mulher, mãe dos dois, Patricia Arquette. Termina... É bom não dizer exatamente quando, mas o garoto do começo dá antes adeus à infância e vira homem.

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Em geral, para contar uma história dessas, que atravessa um período razoável de tempo – dez anos –, o cinema recorre à maquiagem e até muda os atores, quando eles começam crianças. Assim como fez Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-noite com a mesma dupla, filmando Hawke e Julie a cada dois anos, Linklater começou seu filme há muito tempo e depois deu uma parada. Esse tipo de procedimento não é inédito, e já foi usado em documentários célebres. Mas na ficção, e num mesmo filme, não numa trilogia como Linklater fez antes, é um tour de force.

O filme poderia ser bom, feito em condições dramáticas, digamos, mais convencionais. Fica melhor e mais emocionante porque Mason, ao se interrogar sobre sua identidade, ao expor dúvidas e dizer que não sabe o que quer da vida – mas seus pais também não sabem –, não parece mais um personagem de ficção. É como seguir alguém da família.

Às vésperas da premiação – mas não do encerramento, no domingo, com a gala de uma comédia estrelada por Catherine Deneuve – Dans la Cour, de Pierre Salvadori –, os jornalistas se interrogam sobre possíveis vencedores. Mas a competição ainda não terminou. Ontem foi exibido o último dos três filmes chineses que concorrem ao Urso. Os dois primeiros – Blind Massage e Black Coal, Thin Ice – são fracos, só restava ao terceiro ser bom, e foi.

No Man’s Land é herdeiro de Um Toque de Pecado. Em seu longa que eletrizou Cannes no ano passado, Jia Zhang-ke contou histórias de violência na China contemporânea, divulgadas pela internet para driblar a censura que restou como herança do regime comunista. No Man’s Land, Terra de Ninguém, é um filme de estrada. Logo de cara, o advogado protagonista do filme de Ning Hao, anuncia que essa é uma história de animais. O advogado está na estrada em seu carro novo, envolve-se numa disputa com os integrantes de um velho caminhão.

Começa, assim, banalmente. Os caras no caminhão sujam o carro dele, o advogado reage tentando intimidá-los, mas não consegue. Surgem cada vez mais personagens para aumentar a escalada de violência. A trilha homenageia o spaghetti western. A China neocapitalista virou mesmo um faroeste, acredita Ning Hao. Salva-se quem puder.

Um humanista de carteirinha desembarcou ontem na Berlinale para receber a homenagem do festival. O inglês Ken Loach presidiu o júri no ano passado e está de volta para receber um Urso de Ouro honorário, por sua carreira. É uma raridade. Um artista que ainda recorre ao velho jargão e se define como de esquerda. Ao longo de sua extraordinária carreira, fez uma crônica política e social da Inglaterra sob Margaret Thatcher e seus sucessores, trabalhistas ou conservadores. Loach a todos criticou.

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Cada filme é uma viagem, disse Loach. Possui uma identidade, um propósito. Ele reivindica a expressão, mas reconhece quanto deve a seu roteirista (Paul Laverty), a produtores, fotógrafos. “É bom trabalhar com quem conhecemos e respeitamos. Torna as coisas mais fáceis, mesmo que o cinema não seja fácil”, acrescenta o diretor.

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