Outro mineiro revive Drummond nas telas

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Por Agencia Estado
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Das montanhas de Minas emerge a obra extraordinária de Carlos Drummond de Andrade. Nosso poeta maior inspirou dois cineastas mineiros - Joaquim Pedro de Andrade, que fez O Padre e a Moça, contando a história do negro amor de rendas brancas, e Carlos Alberto Prates Correia, que tirou o título Cabaret Mineiro da obra de Drummond, mas buscou sua história em Guimarães Rosa (Siroco). Faltando pouco para seu centenário, em 2002, Drummond revive no cinema graças a mais um mineiro apaixonado. Paulo Thiago, nascido em Aimorés, acostumou-se desde cedo aos versos do poeta. Ele conclui atualmente, em ritmo acelerado, a montagem de Poeta de Sete Faces, uma série de dois documentários de 52 minutos cada, que deve ficar pronta em fevereiro para exibição no Multishow (Net/Sky) e, talvez, na Rede Cultura. O projeto de R$ 400 mil tem patrocínio do BNDES, da Acemig, da Cia. Vale do Rio Doce e da Secretaria da Cultura de Minas. E serve de aperitivo para outra iniciativa ligada a Drummond que Thiago pretende tocar no ano que vem. Ele vai rodar O Caso do Vestido, baseado no poema O Vestido. Os versos foram só um ponto de partida. Thiago encomendou sua história a outro escritor mineiro, Paulo Herculano Lopes, o polifônico autor de Sombras de Julho, que Marco Altberg transformou em filme, sem captar a complexidade do romance. Joaquim Pedro, Prates Correia e agora Thiago - Drummond foi para todos eles só uma inspiração, uma provocação, como diz Thiago, que espera contribuir com seu documentário para a grande discussão que a proximidade do centenário do poeta propicia. O próprio título, Poeta de Sete Faces, já investe nessa provocação. É uma corruptela do Poema de Sete Faces, que abre o primeiro livro de Drummond, Alguma Poesia. "Quando nasci, um anjo torto/desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O anjo torto e o gauche viraram emblemas da poesia drummondiana, mas o título tem outro significado, mais interpretativo da obra do artista. Embora ele não tenha os heterônimos de Fernando Pessoa, Thiago acredita que Drummond não é um, mas múltiplo. Um poeta de muitas faces, que começou modernista, fez poesia social e política, depois filosófica, metafísica, até chegar ao memorialismo. Um jornalista e funcionário público de vida pacata e, mesmo assim, marcada por gestos de repercussão - do gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação do Estado Novo, ao flerte com o Partido Comunista de Prestes, que o exortou a publicar a revista Tribuna Popular. O documentário ou os documentários formam um ensaio poético sobre a vida e obra de Drummond, que é interpretado por Carlos Gregório. Mas Thiago faz a ressalva - é menos uma interpretação realista que uma tentativa de dar corpo ao Drummond alegórico, metafórico, simbólico - uma sombra que perpassa o filme e cujas grandes poesias são recitadas por gente como Paulo Autran, Paulo José, Zezé Motta e Antônio Calloni. Thiago admite que está tendo um prazer imenso ao fazer esse filme. "Gostaria que os espectadores tivessem tanto prazer quanto eu", diz.

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