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Ousadia do cinema paulista esbarra em bilheteria

Por Agencia Estado
Atualização:

O novo cinema paulista é ousado, inventivo e antenado no real, mas talvez pague, na bilheteria, o preço de suas virtudes. Essas idéias apareceram no debate de sábado no Centro Cultural Banco do Brasil, o primeiro do evento Cinema Paulista - Retomada com Renovação, organizado pelo crítico Amir Labaki. No encontro, especialistas reuniram-se para discutir de que maneira o cinema de São Paulo saiu da UTI - em que esteve em companhia de todo o cinema nacional na era pós-Collor - e pôde emplacar títulos significativos como Um Céu de Estrelas, Bicho de Sete Cabeças e Castelo Rá-Tim-Bum. Para discutir o assunto reuniram-se os cineastas Laís Bodanzky (de Bicho de Sete Cabeças) e Toni Venturi (de O Velho e Latitude Zero), a produtora Zita Carvalhosa e a jornalista Maria do Rosário Caetano. Um público atento lotou a sala e participou dos debates no final. Nesta semana, também no sábado, a discussão prossegue, agora abordando os aspectos estéticos da nova produção paulista. Toni Venturi preferiu fazer exposição mais geral, dizendo que o novo cinema brasileiro pode não apresentar novidades quanto à temática e linguagem, mas teve o mérito de incorporar em seus quadros nova geração, que veio do curta-metragem, da publicidade, do videoclipe e da TV. Essa incorporação de quadros é muito visível em São Paulo. Para a produtora Zita Carvalhosa, existe em Sampa cumplicidade muito grande entre produtor e cineasta. Além dessa proximidade, o novo cinema de São Paulo teria sua origem mais significativa no curta-metragem, no qual os diretores estreantes de longa se exercitaram. "O cinema paulista experimenta muito e está aberto para a grande mudança tecnológica possível com o cinema digital, mistura de bitolas, transposição de um suporte para outro, etc." A diretora Laís Bodanzky confirma a origem do atual cinema paulista - "Toda a infra-estrutura dele vem do curta-metragem", diz. Curta-metragista é gente acostumada a trabalhar na precariedade. Há problemas, no entanto. A jornalista Maria do Rosário Caetano trouxe números que falam dessas dificuldades. Dos 186 filmes de longa-metragem lançados a partir da retomada do cinema brasileiro apenas 56 são paulistas. Em termos de bilheteria, a relação parece ainda mais desfavorável. Dos dez filmes de maior público do cinema brasileiro contemporâneo, nenhum vem de São Paulo. Entre as 20 maiores bilheterias dos anos 90 para cá, apenas uma produção - Castelo Rá-Tim-Bum, de Cao Hamburger - tem origem paulista. Nesses termos, fica evidente a desproporção entre a importância de São Paulo e o cinema que nele se faz. Discussões bairristas não ajudam. O problema (todos sabem) é político.

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