Oscar se afasta cada vez mais das grandes bilheterias, diz especialista

Premiação se aproxima, aos poucos, dos filmes artísticos

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Por Pedro Rocha 
Atualização:

Já se vão 13 anos desde que o Oscar premiou como melhor filme o longa que havia dominado as bilheterias da época. Foi com O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, que mesmo estreando em dezembro foi o filme mais visto de 2003, sendo premiado pela Academia em fevereiro do ano seguinte.

Cena de Moonlight - Sob a Luz do Luar Foto: David Bornfriend

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Desde a época, nenhum dos filmes vencedores do Oscar esteve entre os 10 mais vistos nos cinemas norte-americanos em seu ano de estreia. Apenas três, aliás, estiveram no top 20: Os Infiltrados foi o 15.º filme mais visto de 2006, Quem Quer Ser o Milionário? foi o 16.º de 2008 e O Discurso do Rei foi o 18.º de 2010.

Em 2017, a Academia elegeu Moonlight – Sob a Luz do Luar como melhor filme, premiando assim o longa menos visto pelo público desde Guerra ao Terror, que levou a estatueta em 2010, superando o grande blockbuster da época, Avatar, detentor de quase US$ 750 milhões em bilheteria. Durante o período em que esteve em exibição nos EUA no ano passado, Moonlight arrecadou US$ 25.153 milhões e foi o 97.º filme mais visto do país, enquanto Guerra ao Terror arrecadou apenas US$ 17 milhões, se posicionando como o 116.º longa mais visto de 2009.

Mesmo que tivesse premiado o filme mais visto entre os seus indicados na edição de 2017, a Academia teria dado a estatueta para Estrelas Além do Tempo, que foi o 16.º longa mais visto do ano passado nos EUA.

Para Paulo Sérgio Almeida, diretor do site brasileiro Filme B, especializado em mercado cinematográfico, houve uma clara mudança no estilo de filme premiado pela Academia, que privilegia, agora, longas do circuito de arte, deixando de lado grandes blockbusters. “Há uma tendência do Oscar de premiar filmes com uma maior qualidade artística do que antigamente”, diz. “O blockbuster alimenta a indústria, mas o Oscar quer algo a mais”, afirma Almeida.

“O Oscar está cada vez mais se aproximando de filmes de arte. E esta é uma tendência que veio para ficar”, completa o diretor do site Filme B.

Para ele, o motivo do distanciamento da Academia de grandes blockbusters vem de seus votantes. “A Academia é formada por uma classe que envelheceu vendo filmes dos anos 1950 e 60, que eram filmes de grande qualidade, de uma safra diferente dos grandes blockbusters de hoje”, analisa. 

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“A Academia quer, cada vez mais, prestígio, premiar o que eles consideram, vamos dizer assim, filmes de qualidade”, pondera Paulo Sérgio.

Segundo o especialista, a vitória de Moonlight – Sob a Luz do Luar na premiação do mês passado é a prova da mudança de visão da Academia. “Moonlight é um filme para um público muito fechado, com uma linguagem bastante moderna, que é uma coisa que a maioria dos espectadores não gosta. É um filme do circuito de arte.” 

De acordo com uma tabela preparada pelo Filme B, com a bilheteria dos longas vencedores do Oscar no Brasil, é possível verificar que, também por aqui, poucos filmes alcançaram um grande número de público nos últimos anos. Desde O Senhor dos Anéis 3, apenas Menina de Ouro, Os Infiltrados, Quem Quer Ser um Milionário? e O Discurso do Rei ultrapassaram a marca de um milhão de espectadores no País. 

No entender de Almeida, as informações de bilheteria revelam também uma desvalorização da influência da premiação na indústria cinematográfica. “O Oscar, hoje, não é mais uma marca mercadológica forte, a não ser que ela venha agrupada. Tem que ganhar os principais prêmios para ter uma influência grande na indústria”, acrescenta o diretor do Filme B.

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