Os acasos da vida dão o tom em "O Gosto dos Outros"

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Por Agencia Estado
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O Gosto dos Outros é aquilo que se pode chamar de um pequeno filme muito bem-sucedido. Sua diretora, Agns Jaoui, faz sua estréia na direção, mas tem um belo currículo anterior: assina os roteiros de On Connaît la Chanson e Smoking/No Smoking, ambos de Alain Resnais. Ganhou o César, o Oscar francês, por esses dois roteiros. E colocou novo troféu na estante com O Gosto dos Outros, considerado o melhor filme de 2001 na França. Foi sucesso de público também, levando 4 milhões de pessoas aos cinemas. Quando você vê o filme não pensa que é para tanto. Afinal, parece apenas uma amena comédia de costumes, ambientada numa cidade do interior da França. O personagem principal é Jean-Jacques Castella (Jean-Pierre Bacri), empresário meio bronco que vai ao teatro, arrastado por sua mulher (Cristiane Millet) e sucumbe aos encantos de uma atriz quarentona, Clara Devaux. Enquanto a peça está rolando, um dos guarda-costas de Castella vai ao bar comprar cigarros e é atendido pela garçonete Manie (a própria diretora Agns Jaoui). Ela se lembra dele e diz que dormiram juntos. O caso começa por aí, mas evolui também em direção ao outro guarda-costas. Um triângulo amoroso bem excêntrico. Verdade que O Gosto dos Outros tem esse lado de quadrilha amorosa. Fulano que amava beltrano, que amava um outro etc. Ecos de La Ronde, de Ophuls. Mas também de um modo interessante de afrontar a diversidade. Você verá tipos bem comuns e distintos uns dos outros. Castella é um empresário grosseiro, mas em seu peito pouco cultivado também bate um coração. A atriz por quem ele se apaixona parece um tipo avançado (é artista, portanto aberta, etc.), mas ostenta um lado bastante convencional. Enfim, são figuras bem humanas e humanidade, aqui no caso, quer dizer contradição, fragilidade ao lado de força, coerência quando possível, mas sem que isso se torne um hábito. Otimismo - A graça vem da maneira como os enredos secundários, que funcionam como digressões, se relacionam com o tema central. E este diz respeito à capacidade de mudar sua própria vida. Sim, O Gosto dos Outros é otimista. Mas não de maneira irrealista. Fala das pequenas mudanças possíveis, dos bons acasos que podem transformar, e para melhor, uma vida. Em termos de comédia romântica é até bem pé no chão. Por isso, a personagem mais débil (em vários sentidos do termo) é a mulher de Castella, cuja cabeça habita um mundo à parte, com suas fantasias e bichinhos de estimação. Que vá viver na Disneylândia, recomenda a ela outro dos personagens - um comentário do racionalismo francês ao escapismo esperto do concorrente, Hollywood, claro. Serviço - O Gosto dos Outros (Le Goût des Autres). Comédia. Direção de Agns Jaoui. Fr/2001. Dur.: 112 minutos. 14 anos.

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