PUBLICIDADE

Oliver Stone prevê dificuldades para distribuir filme nos EUA

Documentário retrata geração de líderes de esquerda; 'americanos têm complexo sobre o sul', diz diretor

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O cineasta americano Oliver Stone receia que seu documentário sobre o presidente venezuelano Hugo Chávez, crítico acirrado da política externa americana, tenha dificuldade em encontrar distribuidor nos Estados Unidos. "South of the Border," que fez sua estreia mundial no festival de cinema de Veneza nesta semana, retrata Chávez como defensor dos pobres e inclui entrevistas com líderes do Brasil, Bolívia, Argentina, Paraguai, Equador e Cuba. O diretor destaca como uma geração de líderes de esquerda está tentando aumentar sua independência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e, por extensão, da política econômica dos EUA, que Stone critica no filme. "South of the Border" também tenta mostrar que Chávez vem sendo injustamente tratado pela imprensa norte-americana, que o apresenta como um rebelde perigoso e que constitui uma ameaça à segurança. Stone, de 62 anos, disse à Reuters em entrevista que prevê dificuldades para levar seu filme ao público americano, observando que o mesmo aconteceu com filmes anteriores feitos sobre a América Central ou do Sul. "'Salvador - O Martírio de um Povo', com Jimmy Woods, teve dificuldade em encontrar distribuidor nos EUA, e 'Comandante', com Fidel Castro, foi tirado do ar duas semanas antes de sua transmissão prevista pela HBO," disse o diretor na noite de segunda-feira, em entrevista conjunta com Hugo Chávez. "'Looking for Fidel' foi exibido, mas em circuito limitado. Isso é sempre um problema, e não apenas para mim." "A maioria dos filmes que trata com franqueza dos problemas ao sul da fronteira dos EUA emperra. É um complexo americano sobre seu quintal, o sul, que vem acontecendo há um século." Chávez disse à Reuters que procura construir "um modelo democrático real" na Venezuela e que tem esperanças de conseguir colaborar com o presidente Barack Obama. Críticas a caminho

Premiado com o Oscar, Oliver Stone disse que está preparado para receber críticas "de ambos os lados" do espectro político nos EUA por traçar um retrato tão favorável de Chávez, líder cujas credenciais democráticas são questionadas por muitos. "Entre 15 e 20 por cento do filme é feito de críticas escandalosas e diretas ao presidente Chávez. Mostramos isso sem rodeios," disse Stone. "Ele é tachado de tudo pela Fox News, mas também pelo New York Times." Stone disse que seu filme procurou explorar mais do que apenas a liderança de Chávez e as tentativas de líderes regionais de cooperar mais estreitamente para manter os Estados Unidos à distância. "É uma questão maior que Chávez e a América do Sul," disse Stone. "Não apenas há uma revolução, como há a questão de os EUA estarem constantemente procurando inimigos, quer estejam no Vietnã, no Iraque ou no Irã." "A Venezuela estava na lista de alvos, sem dúvida alguma. Por que criamos inimigos? Será que é para manter nossas forças armadas? Para justificar a criação do super-Estado americano? Por quê?" Depois de endossar a agenda socialista de Chávez e questionar as bases do que descreve como "capitalismo predatório" americano, Stone está voltando ao cenário de um de seus filmes mais famosos, com uma sequência de "Wall Street - Poder e Cobiça," de 1987. Ele disse à revista Variety que só se interessou pelo projeto depois do colapso econômico que teve início há um ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.