Obras-primas de Kurosawa saem em DVD

Pacote com cinco títulos faz uma síntese de sua obra e ajuda a entender porque ele é conhecido como o diretor do movimento e do paradoxo

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Por Agencia Estado
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Tietes do grande Akira Kurosawa podem ajoelhar e rezar: a Continental está colocando nas locadoras e lojas especializadas um superpacote de DVDs com cinco filmes do mestre japonês morto em 1998. Kurosawa sensei: o pacote inclui desde obras conhecidas como Rashomon e Madadayo e outras mais raras, que circulam menos, como A Fortaleza Escondida, Céu e Inferno e O Barba Ruiva. Todos esses filmes valem como uma síntese da obra kurosawiana e ajudam a entender porque ele é conhecido como o diretor do movimento e do paradoxo. Movimentados, os seus filmes eram e não apenas os de samurais. Paradoxais, também, valendo lembrar o que o dicionário registra como definição de paradoxo: afirmação, na mesma frase, de um conceito mediante aparentes contradições ou termos incompatíveis. Um típico paradoxo de Kurosawa: a discussão ética que está na essência de Céu e Inferno, policial que transpõe para o Japão dos anos 1960 uma trama do escritor americano Ed McBain, em sua série sobre o 14.º Distrito. Um milionário recebe a notícia de que seu filho foi raptado e os seqüestradores exigem um resgate que poderá levá-lo à bancarrota. Logo em seguida vem a correção: seu filho está a salvo, quem foi seqüestrado, no lugar do garoto, foi o filho do motorista. E agora - ele paga? Com boa qualidade de imagem e som e extras que incluem filmografias e galeria de fotos, além de menus animados, os demais títulos que compõem o pacote não são menos atraente. Rashomon, que foi o primeiro grande impacto de Kurosawa no Ocidente - ganhou o Leão de Ouro de 1951 -, desconstrói o que poderia ser uma história tradicional de samurais, reconstituindo um crime por meio de diferentes (e conflitantes, de novo o paradoxo) versões. A Fortaleza Escondida, que em francês se chama Le Chateau de l?Araignée, O Castelo da Aranha, é obra de grande suntuosidade cênica e dinamismo na ação. O Barba Ruiva marcou a derradeira colaboração de Kurosawa com seu ator-fetiche, até então, Toshiro Mifune. Os dois desentenderam-se por causa do tratamento que o cineasta queria dar à história de um médico que dedica sua vida aos pobres. Finalmente, Madadayo. O último filme dirigido por Kurosawa conta a história da relação de um mestre com seus alunos. O diretor tinha planos de fazer outros filmes. Não conseguiu concretizá-los. Sua despedida fez-se, assim, por meio dessa história de um velho mestre no qual, com certeza, ele pôde se projetar, sem sofrer nenhuma acusação de narcisismo nem de auto-indulgência. A carreira de Akira Kurosawa foi uma das mais extraordinárias da história do cinema. O status que ele ostenta, de mestre do cinema japonês e mundial, não é favor de ninguém e sim o reconhecimento a um talento fulgurante que encheu a tela de intensidade e beleza.

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