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"O Xangô" abre o Festival do Rio BR 2001

O Xangô de Baker Street é bem produzido, mas é anticlimático e não é a supercomédia que muita gente espera, até pelo nome de Jô Soares no empreendimento. É o seu mérito e o seu limite

Por Agencia Estado
Atualização:

Houve protestos de atores e diretores brasileiros contra a exigência de traje a rigor para a abertura do Festival do Rio BR 2001, na quinta-feira à noite. Muita gente achou macaquice, imitação de Cannes e Hollywood, mas no final todos vestiram black-tie. Nem todos, é verdade. Todas as mulheres estavam de longo, mas Caco Ciocler, só para citar um exemplo entre os homens, estava muito simples - "com alma de black-tie", segundo os organizadores". Talvez houvesse algum simbolismo na atitude de Ciocler, por conta do personagem que interpreta em O Xangô de Baker Street, mas isso você só entenderá quando assistir ao filme que Miguel Faria Jr. adaptou do best seller de Jô Soares. O Xangô abriu o festival. Chovia. A festa de abertura prosseguiu na Ilha Fiscal, também debaixo da chuva. A exibição deveria ter sido precedida pelo curta que Nelson Pereira dos Santos realizou sobre Zé Kéti, mas o filme não ficou pronto. Muitas desistências e impossibilidades vão marcar o festival, embora seja exagero dizer que o evento está esvaziado, como fazem os mau-humorados de plantão. Nenhum festival que mostre 400 filmes em 30 salas, durante 12 dias, fica "esvaziado". Mas existem problemas, claro. A situação mundial reduziu o brilho da presença norte -americana, não de filmes, mas de convidados. Impossibilitou o convidado de honra, o italiano Francesco Rosi, de vir ao País para a retrospectiva em sua homenagem. E existem os problemas da representação nacional. O curta de mestre Nelson não ficou pronto. O longa de Suzana Amaral também não. Uma Vida em Segredo não participa mais do festival. Como toda abertura de festival, a de quinta-feira foi marcada por discursos que destacaram a importância do evento. O festival é uma realização conjunta de dois grupos: Estação e Cima. Subiu ao palco do Cine Odeon, no coração da Cinelândia, o colegiado que organiza a mostra patrocinada pela BR Distribuidora. Discursaram Ilda Santiago e Walkiria Barbosa. Fizeram declarações de fraternidade e solidariedade. O humanismo dá o tom do Festival BR 2001, que destaca a pluralidade - de idéias, religiões e ideologias, com um só compromisso. Não exibir o que não esteja a serviço da arte - por certo -, mas também do entendimento entre os homens. Discursou também o ex-presidente da BR Distribuidora, Luiz Antônio Viana, ainda como presidente. Sua saída da empresa só será oficializada pelo conselho na segunda-feira, dia 1.º. Foi bom que ele subisse ao palco. Cinéfilo assumido, Viana ligou a marca da empresa que preside ao cinema nacional. Produziu filmes e eventos. Num mundo competitivo, empresas e produtos só conseguem sobreviver graças à visibilidade de suas marcas. A da BR Distribuidora não está só nos postos espalhados pelo Brasil, mas em letreiros de filmes, outdoors e nas declarações de quem faz cinema no País. O retorno compensa, garante Viana. "Rio, mais do que nunca uma cidade cinematográfica." É o que anuncia o imenso outdoor que cobre a fachada do Shopping Rio Sul, no caminho de Copacabana. Balões com o logo do festival estão espalhados por toda a orla. E com exibições em 31 salas - no Odeon, a preços populares, R$ 2 -, o festival realmente movimenta o Rio. Na quinta à noite, a exibição de O Xangô foi precedida pela das novas peças publicitárias da BR, inspiradas nos filmes Tieta, Amores Possíveis, Villa-Lobos, Uma Vida de Paixão e Castelo Rá-Tim-Bum. As melhores são a primeira, na qual Sônia Braga, em duas versões (platinada e morena), dá um show, e a última, com Rosy Campos não menos sensacional. Niemeyer - Também foi exibido um vídeo sobre os projetos combinados do Museu BR do Cinema Brasileiro e do Cinemark da produção nacional, com sete salas, que a BR constrói em Niterói. Oscar Niemeyer desenha e explica os projetos. O museu terá o formato redondo, tão freqüente na obra do arquiteto. As sete salas, dispostas uma ao lado da outra, num anexo triangular, terão entre 600 lugares (a maior) e 150 (a menor). Tudo isso confirma, na prática, o que Luiz Antônio Viana diz e deveria servir como exemplo para os empresários e governantes brasileiros: a cultura também é o combustível que move o País. E chega-se, enfim, a O Xangô. Maria de Medeiros, que ainda não havia visto o filme, adorou. Simpática e elegante, no seu longo floreado de fundo preto, conversou com a reportagem e disse que havia se divertido muito. O público só se divertiu mesmo na cena em que Sherlock Holmes vai ao terreiro de umbanda e ganha do pai-de-santo a definição de Xangô. Seu amigo, o Dr. Watson, incorpora a pomba-gira e o filme assume a mesma visão desmistificadora de Billy Wilder em A Vida Íntima de Sherlock Holmes - exibido quinta-feira na TV paga -, baseada no suposto vínculo homossexual na ligação da dupla. O Xangô de Miguel Faria Jr. pode fracassar nas suas deduções, mas essa concepção de um Sherlock gay não é referendada pelo diretor, já que o personagem cai de amores por uma mulata, além de inventar a caipirinha e substituir a cocaína pela maconha. O filme é muito bem produzido. Na saída da sala, o produtor Anibal Massaini Neto dizia para quem quisesse ouvir que esse era o filme que ele gostaria de ter produzido. Mas é anticlimático e não é a supercomédia que muita gente espera, até pelo nome de Jô Soares no empreendimento. É o seu mérito e o seu limite. A estréia é no mês que vem, em 60 salas. Você terá de admitir que o cinema brasileiro já produz filmes com acabamento internacional. É isso que queremos? Com a palavra, em breve, o público.

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