O Sr. Vingança da Coreia do Sul explica seu método

Um encontro com Park Chan-wook, que fala de filmes, Hollywood e amizades regadas a muita bebida

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Por Redação
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Park Chan-wook é um lorde coreano. Fala só a língua da Coreia – e precisa de tradutor –, mas é elegante, comedido e olha o interlocutor nos olhos. Nem parece o diretor explosivo que faz jorrar rios de sangue e decepa membros na trilogia da vingança, iniciada com Symphathy for Mr. Vengeance, em 2002. O filme foi lançado no Brasil como Mr. Vingança, mas só estreou do segundo, Oldboy. O fecho veio em 2005 com Lady Vingança.

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Chan-wook veio ao Brasil como convidado da Mostra, no quadro do seminário para discutir a possibilidade de acordos entre as cinematografias do Brasil e da Coreia. O seminário realizou-se na semana passada e culminou com uma carta de intenções. “Se o Brasil pode aprender com alguém, é com o cinema coreano, que nos últimos 15 anos virou uma potência mundial”, avalia Renata Almeida, diretora artística (e geral) da Mostra. Chan-wook veio no fim de semana e conversou com o repórter no sábado.

Surpreendeu-se ao saber que Spike Lee está meio incógnito na cidade, trabalhando num novo projeto de filme. Spike Lee acaba de fazer o remake hollywoodiano de Oldboy, com Josh Brolin. Sim, o filme repete a cena em que o herói dilacera o polvo vivo com os dentes. Chan-wook não conversou com Spike Lee a propósito da refilmagem, nem teria tempo de encontrá-lo em São Paulo. “Estou com pouco tempo e uma agenda lotada”, lamenta. Conta que deve sua formação cinematográfica ao pai, que formou seu imaginário de espectador – e futuro cineasta – levando-o para ver filmes de Hollywood. Chan-wook viciou-se nos gêneros – thrillers, gângsteres, vampiros – que têm alimentado seu cinema. Mas ele ainda tem um sonho para realizar – “Adoraria fazer um western”, diz.

A carreira começou em 1992, com um filme sugestivamente chamado Moon Is the Sun’s Dream (A Lua é o Sonho do Sol) –, mas a projeção veio com Joint Security Area/Zona de Risco, em 2002. Dois soldados, um da Coreia do Norte, outro do Sul. Integrando instituições que os condicionam a se ver como inimigos, tornam-se amigos. “Havia uma lei na Coreia do Sul que não permitia que se usassem símbolos da segurança nacional em obras de ficção. O sucesso do filme não só acabou com a lei como deu origem a um gênero específico. Teve muitas imitações.” Dois anos depois, surgiu Mr. Vingança, e foi durante a coletiva de lançamento que Chan-wook, pressionado por um jornalista que lhe cobrava o por quê da vingança, disse, sem pensar, que era o primeiro filme de uma trilogia.

Oldboy e Lady Vingança foram feitos para honrar a definição do autor. Seus filmes baseiam-se na realidade, mas também em obras da literatura, em mangás. As fontes são múltiplas. São filmes feitos com grande refinamento estético e até estilizados. Chan-wook explica seu método – “Seleciono os locais da ação e decupo tudo. Faço storyboard até dos diálogos.” Sua fama chegou a Hollywood e ele fez Stoker/Segredos de Sangue, com Nicole Kidman. Depois de absorver tanto do cinema norte-americano, o que ele acha que levou para Hollywood? “Acho que é a mistura de gêneros. Nenhum de meus filmes é ‘puro’, no sentido do gênero. Stoker mistura tudo.” Ele conta que os diretores sul-coreanos são amigos. “Nos apoiamos, discutimos nossos filmes e, às vezes, brigamos, tudo em meio a muita bebedeira”, e ri. Sua meta – alternar filmes na Coreia e nos EUA. E filmar muito. Cita, como caso de longevidade, Manoel de Oliveira. Vida longa, e muitos filmes, para Park Chan-wook.

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