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"O Sol é para Todos" sai em DVD

Por Agencia Estado
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Arthur Penn, Martin Ritt, Sidney Lumet, John Frankenheimer, Robert Mulligan - todos pertencem à geração que a TV cedeu a Hollywood, nos anos 50. Todos realizaram, num ou noutro momento, obras memoráveis. Ritt morreu, Penn e Frankenheimer perderam o rumo, Lumet resiste - e às vezes ainda surpreende com algum filme mais interessante. Quanto a Mulligan, se aposentou. Talvez tenha sido o diretor mais prudente dessa geração. Assina O Sol É para Todos, que acaba de ser lançado em DVD pela Columbia, num disco digital cheio de extras. Trailers de cinema, um making of de 90 minutos, comentários do diretor e do produtor, notas de produção e sobre o elenco. Tudo o que você queria saber sobre o filme que valeu a Gregory Peck o Oscar de melhor ator de 1962. Passa-se numa pequena cidade do Alabama, nos anos 20. Peck faz o advogado idealista que defende homem negro acusado de ter violentado uma jovem branca. A história é contada do ângulo do casal de filhos pequenos de Peck, que recebem do pai uma lição de integridade para nunca mais esquecer. Vale a pena conhecer esse personagem que senta no colo a filha (Mary Badham) para ensiná-la como funciona a Justiça. Além do Oscar de melhor ator para Peck, o filme recebeu mais duas estatuetas da academia - melhor roteiro, para Horton Foote, que adaptou o livro de Harper Lee, e melhor cenografia. Muitos críticos gostam de pensar no que seria O Sol É para Todos se fosse outro o diretor, um Robert Aldrich, talvez, ou um Richard Brooks, ambos muito ativos na época e também voltados ao tratamento de temas psicossociais. A reconhecida prudência de Mulligan impede o filme de ser explosivo, mas não intenso. O Sol É para Todos é bonito e tocante. Carinho especial - Peck foi homenageado no Festival de Cannes do ano passado. Mora na Côte d´Azur com a mulher francesa. Lembrou a carreira, os grandes diretores com quem trabalhou (Alfred Hitchcock, Raoul Walsh, Elia Kazan e Fred Zinnemann, entre muitos outros). Revelou um carinho todo especial por O Sol É para Todos e não apenas por causa do Oscar. Hollywood fez muitos filmes atacando o racismo, mas Peck gosta do de Mulligan por suas qualidades de emoção e honestidade. Na TV, ele assinou adaptações de Herman Melville (Billy Budd), Somerset Maugham (The Moon and Sixpence, com Laurence Olivier) e Charles Dickens (A Tale of Two Cities), entre outros autores. Seu primeiro filme refletia preocupações de ordem psicológica e social - Vencendo o Medo. Os que vieram depois foram decepcionantes, até que Mulligan reencontrou, em O Sol É para Todos, o produtor responsável por sua estréia, Alan J. Pakula. Fizeram vários filmes juntos, até que o próprio Pakula também passou à direção. Mulligan foi sempre atraído por outsiders, por personagens de homens e mulheres sensíveis que vivem à margem, opondo-se a valores sociais que entram em choque com suas verdades interiores. Filmes como O Preço do Prazer, O Gênio do Mal, À Procura do Destino, Subindo por Onde se Desce, que proporcionaram belos papéis a Natalie Wood, Steve McQueen, Robert Redford e Sandy Dennis. Obras-primas - Mulligan também sempre foi atraído por esses pequenos filmes que capricham no desenho psicológico dos personagens. E então, no fim dos anos 60 e início dos 70, já separado de Pakula, ele fez os filmes de gêneros que são suas obras-primas. Ninguém o imaginava talhado para o western, mas A Noite da Emboscada, também com Gregory Peck, é ótimo. E também impressionam o romântico Houve uma Vez um Verão (ou Verão de 42) e o terrorífico A Inocente Face do Terror. Mas é melhor esquecer, para evitar constrangimentos, a medíocre adaptação que ele fez de Dona Flor, o clássico de Jorge Amado e Bruno Barreto, com Sally Field como a mulher de dois maridos. Meu Adorável Fantasma, até o título é ruim, é indigno do homem que fez O Sol É para Todos. O próprio Mulligan sabia disso e preferiu o discreto silêncio da aposentadoria. O Sol É para Todos - Direção de Robert Mulligan, com Gregory Peck. Lançamento em DVD da Columbia. Preço médio R$ 40 00.

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