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"O Senhor dos Anéis" tem milhares de leitores

Publicado originalmente entre 1954 e 55 - e escrito durante a 2.ª Guerra Mundial -, o livro de J.R.R. Tolkien marcou o imaginário dos anos 60

Por Agencia Estado
Atualização:

Se a Terra-Média ainda existisse, os anos de 2001 e 2002 da era cristã deveriam entrar para os registros do condado, a região do mundo em que vivem os hobbits. Bem resumidamente, O Senhor dos Anéis é uma luta entre o bem e o mal, que envolve a disputa por um anel poderoso e mágico. Nessa trajetória, o hobbit Frodo enfrenta Sauron, que pretende dominar os povos livres da Terra-Média. Na segunda-feira, estreou na Inglaterra o filme O Senhor dos Anéis, adaptado do livro do escritor e lingüista John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973), mais conhecido como J.R.R. Tolkien. No dia 1.º de janeiro, o filme chega aos cinemas brasileiros. O Senhor dos Anéis é um desses fenômenos literários que merecem uma atenção especial justamente porque recebem uma atenção especial dos leitores dos três volumes de O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei). E, quem se atrever, através do site www.valinor.com.br, a assinar um grupo de discussão sobre a obra que se prepare para ver a caixa postal de seu programa de e-mail cheio todas as manhãs. Ou seja, um tipo de envolvimento que não é comum nem quando se trata de um programa de TV de sucesso, mais raro ainda quando a obra é um livro. Mas isso é muito pouco, pouquíssimo, para descrever o alcance da obra de Tolkien. Publicado originalmente entre 1954 e 55 - e escrito durante a 2.ª Guerra Mundial -, o livro (e também seu antecessor, O Hobbit, de 1937) marcou o imaginário dos anos 60 e deu origem ao que, posteriormente, se chamou de "tribos". Há seguidores que se vestem como elfos e hobbits, organizam conferências, debates, questionam grafias até compõem poemas nas línguas inventadas por Tolkien. "Eu atribuo o sucesso do livro ao que chamo de tridimensionalidade da obra de Tolkien", afirma Ronald Eduard Kyrmse, revisor técnico e consultor da tradução brasileira de O Senhor dos Anéis e membro de Tolkien Society britânica ("Não participo de fã-clube", disse ele, um engenheiro químico que dirige o programa de educação e treinamento da General Motors do Brasil). Ele explica sua teoria: "Sua obra tem, primeiro, amplitude: trata de muitos aspectos da vida desses personagens que inventou." Para cada grupo e lugar, há calendários, mitos, mapas, literatura, vegetação e, especialmente, uma língua própria. "Em segundo lugar, tem profundidade", continua Kyrmse. Isso significa que as palavras das línguas que Tolkien inventou, por exemplo, não estão lá apenas porque são estranhas. Na verdade, formam línguas imaginárias e coerentes, com gramáticas próprias - mal comparando, lembram a tentativa de se fazer um idioma universal como o esperanto. "Por último, há o tempo: da criação do mundo até a Guerra do Anel, são 7.000 anos." Basicamente, ele acha que, durante a leitura do livro, é possível "suspender a descrença" - se não houve uma Terra-Média, Tolkien dá elementos para acreditar que ela poderia ter existido. Ainda não se deu conta do fenômeno ? e nem isso será possível nesse espaço. Dos textos de Tolkien, nasceu o Role Playing Game, o RPG, e nele se inspiraram autores que, talvez não por acaso, abreviam as iniciais de seus primeiros nomes - sim, J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. (E não deixa de ser curioso o fato de os dois filmes chegarem praticamente juntos ao mercado, deixando os brasileiros com poucas salas de cinema para outros filmes.) Tatiana Belinky, autora de livros infantis, diz, claramente, que J.K. Rowling escreve bem, mas não tem a imaginação de Tolkien. Seria, então, O Senhor dos Anéis, uma obra para crianças? Kyrmse diz que sim - e não. Se uma criança pode se fascinar por sua fantasia, "só um adulto pode compreender sua profundidade" (pesquisas indicam que a maioria dos leitores de Tolkien tem mais de 20 anos). É uma obra para nerds? "Todas as atividades suficientemente complexas têm seus ´nerds´, mas o mundo imaginário de Tolkien não interessa apenas a eles", rebate ainda Kyrmse, que ajudou a Warner a legendar as cópias brasileiras. São perguntas abertas, que cada leitor - e espectador - poderá responder como quiser. Até aqui, Tolkien é um sucesso editorial no Brasil. A editora Martins Fontes, que em 1994 comprou os direitos de publicação do livro pagando um adiantamento de US$ 50 mil, lançou neste mês uma edição comemorativa da mais importante obra de Tolkien. Tem capa dura, borda dourada e um número restrito de exemplares (10 mil, numerados). Custa R$ 98. Também reeditou, com uma nova capa, o volume único, de 1.212 páginas (R$ 75), que já vendeu quase 54 mil exemplares. Em três livros, a obra custa R$ 97,50 (71 mil vendidos do primeiro, 38,8 mil do segundo e 32 mil do terceiro). Todas essas versões trazem o texto completo, informa a editora.

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