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'O Reencontro' traz Catherine Deneuve e Catherine Frot em drama intenso sobre vida e morte

Filme conta a história de uma parteira perseguida pelo passado

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Para o espectador brasileiro, o grande atrativo de O Reencontro, que estreou na quinta, 27, é a presença das duas Catherines, a Frot e a Deneuve, estrela magna do cinema francês. Em fevereiro, no Festival de Berlim, Deneuve declarou que se sente cada vez mais liberta de sua imagem. “A melhor coisa a fazer é assumir a idade. Seria ridículo tentar impedir a passagem do tempo. Tive o privilégio de fazer todos aqueles papéis quando jovem e agora me surpreendo quando os diretores ainda me propõem coisas novas e desafiadoras.”

Deneuve. Com Frot: a grande estrela e a operária da interpretação: encontro visceral Foto: CURIOSA FILMS/VERSUS PRODUCTION

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Aos 73 anos – nasceu em 1943 –, Catherine está quebrando a regra de que não existem mais bons papéis para mulheres maduras. Mas na Berlinale ela provou que está diminuindo o ritmo. Só participou da coletiva do filme. As individuais ficaram por conta da coestrela Catherine Frot e do diretor Martin Provost. Em 2008, ele ganhou nada menos de sete César, o Oscar francês, por Séraphine. Ao repórter, Provost contou como foi salvo, ainda bebê, pela parteira que assistiu sua mãe. “Se ela não tivesse me feito uma transfusão de sangue, como no filme, não teria sobrevivido.”

Mas o filme não é autobiográfico. “Sou fascinado pelo universo das parteiras (‘sage femmes’, em francês). O mundo está mudando, o sistema hospitalar também e percebo com grande preocupação como essas mulheres (a personagem de Frot) vão se tornando obsoletas.” No filme, não é só a vida profissional de Frot que está em crise. Para complicar, reaparece um fantasma do passado. Deneuve, ex-amante de seu pai e considerada por ela a destruidora da família. Deneuve necessita da ajuda. Além de jogadora compulsiva, está em processo terminal de câncer. Vida e morte.

“Béatrice (a personagem de Deneuve) é mitômana. No imaginário do público, Deneuve é tudo o que Béatrice sonhou ser e muito mais. Já Claire, a minha personagem, é a mulher com o pé no chão. Adorei fazer o papel, e embora o roteiro já fosse muito preciso fui a campo, entrevistando parteiras que não desistem da profissão.” Como diz Frot, é um filme com camadas. “Temos a questão das duas mulheres, a possibilidade de romance para Claire, como mulher madura; a relação com o filho; o trabalho no hospital. Martin (o diretor) harmoniza todos esses elementos com humanidade e realismo.”

E o cineasta – “O prazer de um filme como esse está nos encontros. Frot é uma operária da interpretação, mas Deneuve, apesar da aura de estrela, também é.” Para o diretor, Frot poderia fazer Béatrice. A atriz concorda. “Seria, talvez, um desafio maior, assumir esse lado fantástico. Por uma questão de temperamento, prefiro a humildade de Claire, que se manifesta por pequenos toques impressionistas, como numa tela de Pissarro.”

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