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"O recado está dado", diz autor de "Cidade de Deus"

Por Agencia Estado
Atualização:

Cidade de Deus, o filme de Fernando Meirelles adaptado do romance homônimo de Paulo Lins, já levou mais de meio milhão de pessoas aos cinemas em todo o Brasil e provocou diversas discussões sobre a realidade brasileira e sua representação nas telas. Para uns, o filme é um dos melhores já feitos no Brasil e um retrato perfeito da explosão da violência nas grandes metrópoles. Para outros, faltou contextualizar a história da escalada do tráfico de drogas na favela. Há ainda que o acuse de fazer da violência um espetáculo acima da ética. Paulo Lins tem evitado participar de muitas dessas discussões. Seu livro, que está na segunda edição, pegou carona com o sucesso do filme e foi traduzido para mais de 18 línguas. Ontem, Lins falou ao JT sobre a repercussão da obra nas telas e sobre a mensagem que ela transmite. A que você atribui todo esse sucesso de "Cidade de Deus" no cinema? Paulo Lins - É um filme tecnicamente perfeito e com um elenco maravilhoso. E esse elenco é praticamente todo formado por atores que conhecem a realidade que o filme mostra. Mas o seu principal mérito é mostrar aos brasileiros de todas as classes como não existe democracia racial brasileira. O filme foi criticado por não mostrar como quase todos os personagens se tornam bandidos e apenas o Buscapé procura um trabalho honesto. Você concorda? Não acho que faltou contextualizar. Só não vê quem não quer que a realidade brasileira, a desigualdade e a miséria geraram a situação de violência em Cidade de Deus. O mais incrível é que perto do que acontece hoje, no Rio e em São Paulo, a história parece menos violenta que a realidade. Literatura e cinema usam linguagens diferentes, mas nesse caso o recado está dado: o governo e as elites têm que olhar para o lado caso contrário o País vai afundar mesmo em uma guerra.

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