"O Quarto do Pânico", cenas vertiginosas

O diretor David Fincher que fez videoclipes de Madonna e Aerosmith, cria efeitos perturbadores para contar a história de mãe e filha cercadas por ladrões em quarto da nova casa

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Por Agencia Estado
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Logo depois de Seven, os Sete Crimes Capitais, David Fincher disse à reportagem que não queria ser rotulado como diretor de filmes sombrios. Acrescentou que ia fazer um filme para crianças e um musical. Devia estar brincando. A obra de Fincher é, de ponta a ponta, marcada por temas perturbadores e climas mórbidos. Seus temas obsessivos são a perturbação das mentes e a disfunção dos corpos. O quarto do pânico é a mente das pessoas, mas para aceitar isso você precisa ver na casa do thriller que estréia nesta sexta-feira, em São Paulo, uma metáfora do corpo. Fincher, diretor de videoclipes de Madonna e Aerosmith, tinha 28 anos quando foi chamado para substituir Vincent Ward em Alien 3. Aos 38, seu currículo inclui filmes polêmicos como o citado Seven, O Clube da Luta e agora O Quarto do Pânico. O segundo foi universalmente descartado como obra-prima do neofascismo. Talvez seja, mas convém levar a sério quando Fincher diz que faz filmes para iluminar as áreas sombrias da mente. A casa do serial killer de Seven é a expressão da mixórdia mental em que ele vive. Há loucos e desequilibrados em Alien 3 e a tenente Ridley tem de lidar com a ambigüidade do seu instinto materno, já que vai dar à luz um monstro alienígena, Jodie Foster é definida pela própria filha como louca em O Quarto do Pânico e, bem, se você achou que os rapazes de O Clube da Luta eram gente fina é bom começar a repensar suas atitudes. É curioso como Fincher trata os códigos tradicionais de Hollywood. Após um início inovador - as letras dos créditos são fixas, os cenários é que se movem -, o diretor invade com sua câmera o apartamento que Jodie Foster e a filha estão visitando com corretores, num bairro chique de Nova York. Ela descobre o tal quarto do pânico, uma fortaleza inexpugnável instalada no interior da casa. No minuto seguinte, o apê está comprado e mãe e filha se instalam para a primeira noite no lugar. Entram os clichês que Fincher gosta de subverter. A noite é chuvosa, luz e telefone não funcionam direito e, neste quadro, ladrões invadem a casa. Jodie e a filha escondem-se no quarto do pânico, mas é justamente nele que os ladrões estão interessados, pois esconde uma fortuna. Como se não bastasse, a filha é diabética e ameaça entrar em coma, para desespero da mãe aflita. Pode-se discutir a política no cinema de Fincher, suas metáforas sobre o poder e a mente, mas a linguagem de seus filmes é muito interessante. A vertigem dos movimentos de câmera que invadem paredes, passam por asas de xícaras e, assim como devassam objetos, percorrem o corpo e a mente das pessoas, tudo isso cria efeitos perturbadores. O Quarto do Pânico não é 10 mas você perderá se ignorá-lo.

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