O pesar pela morte, tratado com honestidade

Em O Ano do Pensamento Mágico, a dor da perda é vivida com seriedade

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Por Ubiratan Brasil
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Quem sofre uma perda recente fica com um certo olhar que talvez seja somente reconhecível pelos que já viram aquele mesmo olhar no próprio rosto - foi assim que a escritora americana Joan Didion justificou sua dor com a perda do marido, em 2003. Publicado como O Ano do Pensamento Mágico (Nova Fronteira), o relato tornou-se um sucesso mundial, a ponto de a autora adaptá-lo como um monólogo para o teatro. Só acrescentou outra tragédia que marcou sua vida, a morte da filha. “Quando li, senti idêntica emoção pois também perdi entes queridos”, conta Caio de Andrade, que dirige e faz a dramaturgia de uma versão que estreia amanhã, no Teatro Bibi Ferreira.

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Em cena, a atriz Imara Reis. Não bastasse seu perfeito entendimento do texto, especialmente sua força reconfortante, ela também lamenta a morte de parentes. O sentimento, portanto, tornou-se comum. “O grande mérito de Didion está em iluminar uma situação que normalmente as pessoas querem deixar na sombra”, comenta Imara, participando de seu primeiro monólogo em 35 anos de carreira.

De fato, o tom confessional da autora não vem carregado de religiosidade ou mesmo desesperança diante da perda - sem autopiedade, ela revela como enfrentar as adversidades sob um aparente controle. “A morte é tratada por Didion de uma maneira especial, como um fato inerente à vida”, conta Andrade. “Assim, o luto tem de ser enfrentado não como um fracasso. É por esse caminho que se encontra o conforto psicológico que vem em seguida.”

Ao adaptar o texto, ele cortou apenas algumas referências desnecessárias de Nova York. Também convidou a artista plástica Célia Alves para cuidar da cenografia. Ela optou por um ambiente público, local preferido pelas pessoas em busca de reflexão. “O clima é de seriedade, mas não de melancolia e depressão”, diz o diretor. “É uma lição que prepara as pessoas para um momento inevitável”, completa Imara.

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