O pequeno bruxo volta a encantar

O segundo filme da série adaptada dos livros de J.K. Rowling estréia nesta sexta em quase um terço de todo o circuito comercial brasileiro. Harry Potter e a Câmara Secreta é melhor que o primeiro, mas também tem defeitos

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Por Agencia Estado
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Amanhã, 450 salas de todo o País começam a exibir o segundo filme da série com Harry Potter. Depois de Harry Potter e a Pedra Filosofal, o pequeno bruxo criado pela escritora J.K. Rowling está de volta em Harry Potter e a Câmara Secreta. Se o que você quer saber é se o novo filme é melhor do que o anterior, sim, é melhor. Isso não significa que não esteja isento de defeitos: esses se devem ao diretor e roteirista Chris Columbus, mas o coitado pode defender-se dizendo que trabalhou atado numa camisa-de-força. A autora não lhe deu a mínima margem de manobra e o próprio público da série de livros é uma gente muito especial. Adultos ou crianças, eles querem ver na tela exatamente o que está nos livros. Preste atenção às pessoas ao seu redor, quando for ver o filme. Os fãs vão ficar comentando a mínima mudança. Vão antecipar os diálogos e, se as cenas não forem exatamente iguais ao livro, vão chiar. Isso não ocorreu com nenhuma adaptação, antes. Prova quanto essa série de livros virou cult. O primeiro elogio tem de ir para o elenco, claro. Você pode até arriscar-se a ser considerado rabugento, não gostando dos filmes, mas o garoto Daniel Radcliffe, que faz o protagonista, possui rara empatia e transforma Harry Potter num personagem simpático, senão cativante. Seus fiéis escudeiros, Ron Weasley e Hermione Granger, interpretados por Rupert Grint e Emma Watson, completam uma trinca valiosa. Kenneth Branagh está ótimo, ironizando-se a si mesmo como o mágico narcisista e charlatão e até os veteranos Richard Harris e Maggie Smith evitam certa caricatura que caracterizava sua participação no filme anterior. Ela representava muito "british", muito afetada, num registro "velha em filme para crianças". Está mais humana. Ele faz uma despedida em alto estilo. Harris, cuja carreira vem dos tempos do free cinema, atravessa o cinema de autor dos anos 1960 e os heróis de ação de Hollywood, morreu no mês passado. É outro que confere pathos ao professor Dumbledore. Como o personagem é muito importante na série, vai sobreviver ao ator. Ian McKellen, que faz o mago Gandalf em outra série - Senhor dos Anéis -, já aceitou fazer o papel no terceiro filme, O Prisioneiro de Azkaban, que terá direção de Alfonso Cuarón, o diretor de E Sua Mãe também. A entrada de Cuarón em cena talvez evite certos problemas que os dois primeiros filmes têm. Ou o problema: ele se refere ao timing, principalmente. Talvez por ter de apresentar os personagens, o primeiro filme precisava daquelas quase três horas. Neste aqui, é discutível que assim seja. Mas a história, em si, é mais atraente. Começa com Harry Potter de castigo na casa dos tios, mais empesteados até do que no outro filme. É quando entra em cena o elfo Dobby. Ele vai fazer de tudo para impedir que o herói volte a Hogwarts. Quer poupar a vida de Harry, que fica a perigo porque a Câmara Secreta do título foi aberta na escola e há algo (alguém? um ser monstruoso?) à solta em Hogwarts. A história é legal, mas você pode reclamar da morosidade com que é narrada e da repetição de certos clímax do filme anterior - o jogo, por exemplo. A magia é com freqüência assustadora: o ataque das aranhas, o monstro da câmara secreta. Por conta disso, o Diário Oficial de quarta-feira fixou a impropriedade da atração em 12 anos, mas a Warner recorreu, obteve ganho de causa e a censura voltou a ser livre. Quanto ao timing, é um problema de direção e, talvez, de roteiro. Columbus foi um grande roteirista de aventuras infanto-juvenis: escreveu Gremlins e Os Goonies para Joe Dante e Richard Donner, mas seu melhor trabalho no setor foi em O Enigma da Pirâmide, quando forneceu a Barry Levinson material de primeira para contar a história do jovem Sherlock Holmes. Como diretor, Columbus adaptou um conto de três páginas de Isaac Asimov e o transformou numa das mais aborrecidas fantasias científicas de Hollywood. O Homem Bicentenário, com Robin Williams no papel de um robô que quer ser gente, arrasta-se por penosas três horas, com muitas cenas que são verdadeiras armadilhas sentimentais para provocar lágrimas. A história repete-se pelo menos em parte em A Câmara Secreta. Você vai ver que a história desse filme termina quando Harry Potter liberta o elfo do jugo de seu patrão. Seria necessário, depois disso, uma cena para mostrar a volta de Hagrid e de Hermione. O filme arrasta-se, nesse desfecho, por intermináveis 12 minutos, que você pode contar no relógio, mostrando todo tipo de choradeira, bem ao estilo do diretor. Os fãs de carteirinha poderão aceitar isso, mas o espectador que não é fanático e só quer ver uma boa história bem contada será capaz de entediar-se até a morte. Harry Potter, de qualquer maneira, estréia num número de salas que totaliza quase um terço do mercado exibidor no País. Para todo lado que olhar, você verá Harry Potter. Como não acreditar que o filme poderá repetir o sucesso do ano passado? O primeiro Harry Potter fez quase 4,5 milhões de espectadores e, afinal, só não foi o maior sucesso do ano porque houve um fenômeno maior ainda, chamado O Homem-Aranha.

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