"O Patriota" brilha nas locadoras

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Por Agencia Estado
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Pergunte a 11 entre 10 donos de locadoras. Eles vão confirmar que os vídeos e discos digitais com atores como Tom Cruise e Julia Roberts não mofam nas prateleiras de suas lojas. São os queridinhos do público. Mas há um terceiro nome a acrescentar nessa seleta lista de ídolos do público - Mel Gibson. Quem é o homem mais sexy do mundo? As mulheres hesitam entre os olhos azuis de Mel e o doutor George Clooney. Os homens, chamados a desempatar, preferem o estilo barra-pesada de Gibson. A conseqüência é que ele também faz a festa nas locadoras, a exemplo do que ocorre nos cinemas. Só para lembrar, Gibson foi escolhido o melhor ator do mundo na última edição do People Choice´s Award. No caso, não se trata mesmo do melhor ator, que Gibson, obviamente, não é, mas do ator preferido. Mal saiu em vídeo e DVD, O Patriota já disparou na preferência do público. Nos cinemas brasileiros, o filme fez 1,5 milhão de espectadores, menos que o próprio Gibson fez com qualquer um dos quatro filmes da série Máquina Mortífera, mas um número respeitável num mercado em que os filmes que superam a marca do milhão estão cada vez mais raros. O Patriota chegou às lojas e locadoras em 23 de janeiro. A questão é - vale a pena (re)ver O Patriota em vídeo e DVD? O público diz que sim, resta saber se isso é só fogo de palha e o filme não esgota logo suas potencialidades como título atraente para a massa de espectadores. Além da alta qualidade de imagem e som, o disco digital, no formato de tela widescreen, está repleto de extras, sendo que esse plus é o diferencial que costuma fazer a cabeça dos cinéfilos no DVD. A edição especial do épico produzido por Dean Devlin e dirigido por Roland Emmerich é rica em apresentações diferenciadas. Tem cenas inéditas, compara o storyboard (a cena desenhada) com o resultado final, possui comentários do diretor e do produtor e ainda capricha em trailers, fotos e biografias, trazendo, o que é raro, menus musicados em português. Só isso já seria um diferencial e tanto, mas há mais. Há o making of interativo dos efeitos especiais, outro making of (narrado por Gibson e Heath Ledger, que faz seu filho) sobre a arte da guerra, tal como suas regras estavam estabelecidas no século 18 e ainda um terceiro making of sobre os verdadeiros patriotas, biografando os heróis da independência americana. Colonialismo cultural - Hollywood é fogo. Não é por acaso que domina os mercados de todo o mundo e ainda faz a cabeça principalmente do público teen, que curte essas fantasias de heróis americanos com os quais são solicitados a se identificar no escurinho do cinema. Isso tem nome, naturalmente. É colonialismo cultural e o próprio diretor Emmerich é o resultado perfeito desse tipo de dominação intelectual. Alemão de nascimento, começou a fazer filmes em seu país, antes de ser cooptado por Hollywood. Lá dirigiu, sempre em parceria com o produtor Devlin, Independence Day e Godzilla. O último foi um fiasco completo, mas Independence Day arrebentou nas bilheterias e virou um fenômeno internacional. Emmerich criou uma fantasia na qual a Terra é invadida por alienígenas e o presidente dos EUA comanda a reação aos ETs malvados, de tal forma que a data da independência americana, o 4 de julho, passa a ser a data da redenção da humanidade. Até os cineastas americanos teriam constrangimento em tecer semelhante fantasia. Emmerich não teve constrangimento nenhum. Quis mostrar que é mais americano, de coração e mente, do que os próprios nativos da terra de Tio Sam. Ele insiste na mesma linha em O Patriota. Gibson faz o personagem-título e a idéia que se tem, a partir do filme, é que o personagem fictício por ele interpretado ganhou sozinho a guerra da independência dos EUA. No começo, esse homem é um pacifista contrário a toda guerra, mesmo a da independência de seu país. Ele só se mobiliza para a luta quando seu filho é morto pelos colonizadores ingleses. Acuado, e com a ajuda do outro filho (que Heath Ledger interpreta), Gibson desequilibra a parada e vence. Outra coisa não se poderia esperar do super-homem de Máquina Mortífera. Ideologicamente discutível (para dizer-se o mínimo), O Patriota é pura falsificação sociológica que Hollywood gosta de fazer quando trata da grande História (com maiúscula). A simplificação histórica vira banalização. Tudo se resume a uma trama de vingança desenvolvida segundo a fórmula do bom e velho maniqueísmo - mocinhos versus bandidos. Mesmo discutível, poderia salvar-se, como espetáculo, se fosse excepcionalmente bem narrado. Não é. Emmerich é o maior reciclador de clichês hollywoodianos do cinema atual. Os críticos odeiam, o público gosta. E a surpresa é constatar que o vilão (Jason Isaacs), desta vez, mexe mais com a libido das mulheres que o próprio herói. O Patriota (The Patriot) - EUA, 2000. Direção de Roland Emmerich, com Mel Gibson, Heath Ledger, Joely Richardon e Chris Cooper. Lançamento em DVD e vídeo da Columbia. O disco digital pode ser adquirido pelo valor médio de R$ 45.

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