'O Mensageiro' traz drama com familiares de soldados no Iraque

Londe do campo de batalha, dois oficiais têm como função comunicar a morte dos soldados na guerra

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Por Redação
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O trabalho dos dois protagonistas do drama "O Mensageiro" é dos mais difíceis. Eles são dois oficiais do Exército norte-americano que estão bem longe dos campos de batalha. Sua luta acontece em sua terra natal, onde têm por função comunicar a pais e/ou viúvos ou viúvas a morte de seus entes queridos na guerra.

 

 

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Como bem alerta o capitão Tony Stone (Woody Harrelson, de "Zumbilândia") ao seu novo colega de trabalho, sargento Will Montgomery (Ben Foster, de "X-Men - O confronto final"), não existe uma forma fácil de fazer esse serviço. Mesmo assim, é preciso seguir algumas regras.

"O Mensageiro", em estreia nacional, é um estudo desses dois personagens, dirigido por Oren Moverman (corroteirista de "Não estou lá"), a partir de um roteiro (indicado ao Oscar, além de premiado no Festival de Berlim do ano passado) que ele escreveu com Alessandro Camon. O filme aborda a guerra no Iraque, só que focando as consequências domésticas do conflito nos EUA, a partir do olhar de seus dois protagonistas.

Montgomery tem poucos meses para cumprir do serviço militar. Ele voltou do Iraque depois de perder parte da visão durante um confronto. Stone, por sua vez, jamais esteve num campo de batalha. Tudo o que ele sabe sobre guerra aprendeu na escola ou do relato de colegas. Ainda assim, ele pensa que sabe tudo a respeito.

Essa diferença, uma espécie de fissura na sociedade dos Estados Unidos, é o que guia a narrativa de "O Mensageiro": aqueles que estiveram numa guerra, aqueles que gostariam de ter estado e aqueles que não fazem ideia do que é estar em ação. A essa última categoria pertencem as pessoas que receberão as notícias das baixas, dadas por Stone e Montgomery. Nem sempre é preciso que eles falem qualquer coisa. Pais e viúvas sabem o que significa ter dois oficiais do Exército batendo em sua porta.

Em princípio, a relação entre os dois personagens e as pessoas a quem visitam teriam que permanecer tão impessoais quanto possível. Stone alerta Montgomery, entre outras coisas, que nunca deve abraçar os parentes das vítimas - na verdade, não deve ter qualquer tipo de contato físico com eles.

Num primeiro momento, o relacionamento entre os dois personagens centrais também é de confronto. Montgomery não gosta de seguir os protocolos, não gosta de Stone e sofre de um sério estresse pós-traumático, além de descobrir que sua ex-namorada (Jena Malone) está prestes a casar-se com outro. A amizade entre os dois, no entanto, amadurece à medida em que são obrigados a um convívio maior. O rapaz descobre feridas também no passado de seu novo colega, um ex-alcoólatra solitário.

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No começo, Montgomery assiste quase que passivamente Stone dando a notícia a familiares. Mas são situações de cortar o coração. Uma mãe passa mal assim que os vê dentro de sua casa. Um pai olha suplicante para um bebê, sua neta, que brinca na sua sala ao saber da morte da filha. Um outro pai reage de forma inesperada e assustadora - esse é interpretado por Steve Buscemi (de "Eu os declaro marido e... Larry"), que deixa de lado sua habitual veia humorística para impressionar em duas cenas, como um homem devastado pela dor.

Montgomery é consumido por um conflito interno que fica ainda mais difícil de lidar quando conhece Olivia (Samantha Morton, de "Sinédoque, Nova York"), viúva de um oficial. "Sei que não deve ser fácil para vocês também", diz ela com sinceridade, depois de ser informada da morte de seu marido. O sargento acaba se interessando pela viúva. Dos pequenos encontros pretensamente casuais a um relacionamento mais sério é apenas um passo. Mas um conflito ético os aflige.

Moverman, ele mesmo um veterano de combate do Exército de Israel, estreia na direção conduzindo o filme com segurança e objetividade. Talvez por conhecer de perto o tema, ele foi capaz de criar personagens com nuances e veracidade. Muito ajudado por duas atuações empenhadas - Harrelson concorre ao Oscar de ator coadjuvante -, o diretor criou um filme que só tem a acrescentar não apenas aos debates sobre a presença dos Estados Unidos no Iraque, como também ao alto preço pago pelas famílias dos soldados mortos, geralmente longe do foco da mídia.  (Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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