PUBLICIDADE

‘O mais importante é não perder minhas raízes', diz diretor guatemalteco Jayro Bustamante

Diretor concedeu entrevista ao 'Estado' dias antes de vencer o Prêmio Alfred Bauer

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL / BERLIM - Foi um encontro rápido, e inesperado. O repórter almoçava num restaurante próximo ao Berlinale Palast. Na mesa ao lado, estava o diretor guatemalteco Jayro Bustamante, dois ou três dias antes de vencer o Prêmio Alfred Bauer por Ixcanul/Volcano.

PUBLICIDADE

É uma histórias muito enraizada na cultura da Guatemala. O que o levou a querer contá-la?

Justamente esse compromisso com a realidade e a tradição. Em geral, e a título de denúncia, os diretores contam histórias em favor de minorias. Mas, no meu país, a maioria é que é discriminada. Somos 80% descendentes de kaqchikel (maias) e 20 % mestiços (europeus e indígenas). Os 20% controlam o país, a maioria é usurpada de seus direitos e, dentro dela, as mulheres ainda sofrem mais. Por isso a histórias de mãe e filha, e de como elas resistem, fortes contra a adversidade.

Maria Telon, Jayro Bustamante eMaria Mercedes Coroy em Berlim Foto: AFP PHOTO / ODD ANDERSEN

Onde fica a região que você filma?

É a região montanhosa na fronteira. Vivi até os 14 anos à sombra daquele vulcão. Coimo sou mestiço, tive oportunidades que os maias não têm. Pude sair e estudar cinema. Quis voltar para fazer meu longa. Decidi construir uma histórias sobre o que sabia. A paisagem, as pessoas. O problema da Guatemala é que nada é planejado. Os recursos naturais são destruídos, a saúde e a educação são precárias e ainda existem esses abusos como a venda de bebês.

Por que escolheu atores não profissionais?

Na verdade, misturei. Maria Telón, que faz a mãe, tem experiências de teatro comunitário. Maria Mercedes Coroy, que faz a protagonista, Maria, não tinha experiência nenhuma, mas eu queria aquelas veracidade do olhar. As duas se integraram perfeitamente e a equipe toda transformou Ixcanul num projeto de vida. Foi muito intenso.

Publicidade

Como está sendo o sucesso do filme em Berlim?

É tudo emocionante. Muita gente, como você, vem falar comigo. Estou cheio de planos. Quero fazer um filme urbano, mostrando outra face da Guatemala. Será uma histórias de pai e filho, como Ixcanul é sobre mãe e filha. Quero trabalhar com a mesma equipe. O importante é não perder as raízes. / L.C.M.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.