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"O Invasor" vence Festival do Recife

O thriller de Beto Brant foi o grande vencedor do festival, ganhando nas categorias melhor filme, direção, ator (Marco Ricca), ator-revelação (Paulo Miklos), música e fotografia

Por Agencia Estado
Atualização:

Quase se repetiu a vitória acachapante de Bicho de Sete Cabeças, no ano passado. O filme de Laís Bodanzky ganhou 9 dos 11 troféus Passista no 5.º Festival de Cinema do Recife. O Invasor recebeu 8 Passistas, agora de um total de 12, no domingo à noite, no encerramento do 6.º Festival do Recife. Os prêmios deram a medida do agrado que o filme produziu no público e na maioria da crítica. Havia menos gente do que na noite da exibição. O Cine-Teatro Guararapes, com capacidade para 2,6 mil espectadores sentados, ultrapassa facilmente a marca dos 3 mil, com o excedente de pé, no fundo da sala, ou espalhado pelo solo, nos corredores. Estava lotado na noite de quinta-feira, quando O Invasor foi exibido na competição. Havia clarões na platéia, no domingo. Ou seja: o público recifense está mais interessado em ver os filmes do que na premiação, propriamente dita. É um público entusiasmado, generoso, participante. Curtiu demais o filme de Beto Brant e seu intérprete, o titã Paulo Miklos, que faz o invasor do título. Os troféus de O Invasor premiaram o filme, diretor, ator (Marco Ricca), ator revelação (Miklos), atriz coadjuvante (Mariana Ximenes), fotografia (Toca Seabra), música (Sabotage e Instituto) e montagem (Manga Campion). O público podia ser menos numeroso, mas não era menos entusiasmado. Quase veio abaixo quando Miklos e Sabotage atacaram num rap pesado. Continuou aplaudindo quando a bela Carolina Kasting subiu ao palco para receber o prêmio de melhor atriz, por Sonhos Tropicais, o único recebido pelo filme de André Sturm. Os prêmios para a categoria documentário contemplaram Onde a Terra Acaba, de Sérgio Machado, que ganhou nas categorias de filme, montagem (Isabelle Rathery) e som (Denilson Campos). Viva São João!, de Andrucha Waddington, venceu os prêmios de direção, fotografia (Marcelo Durst) e trilha (Gilberto Gil). O sétimo Passista, na categoria documentário, foi para Rosemberg Cariry, pelo roteiro de Juazeiro - A Nova Jerusalém. Divisão mais equânime, impossível. Andrucha foi elegante: subiu três vezes ao palco. Na primeira, ao receber o prêmio de trilha, disse que era de Gil; na segunda, que o prêmio de fotografia era de Durst. Quem imaginava vê-lo dizer que o prêmio de direção era dele quebrou a cara: Andrucha lembrou que o cinema é uma arte de equipe. Agradeceu em nome de todos os companheiros. Presidido pela atriz Ana Beatriz Nogueira, o júri não foi tão equânime na categoria ficção. Havia dois filmes fortemente premiáveis. Pode-se fazer objeções a O Invasor, mas nunca deixar de reconhecer a empatia do filme com o público nem a riqueza técnica (estilística mesmo) de sua concepção e realização. O Invasor sempre foi um dos grandes premiáveis do Recife. O outro surgiu só na última noite da competição: As Três Marias, de Aluizio Abranches, filme difícil, operístico mas rico e representativo de uma tendência importante do cinema brasileiro hoje. Há um tema que expressa o País no cinema. Encontram-se relações autoritárias entre pais e filhos, sintomáticas da sociedade brasileira atual, em filmes tão diversos quanto Bicho de Sete Cabeças, Abril Despedaçado de Walter Salles, e Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho. A mesma estrutura autoritária e familiar encontra-se, no feminino, em As Três Marias. O júri preferiu concentrar a premiação em O Invasor. Atribuiu ao filme de Abranches um prêmio de consolação, na categoria de som, que talvez nem merecesse. O som de Netto Perde Sua Alma, de Tabajara Ruas e Beto Souza, para não falar no do próprio O Invasor, é mais criativo. O épico, na verdade, antiépico, gaúcho também saiu vitorioso do Recife, na categoria ficção. Recebeu quatro prêmios: melhor roteiro (Ruas, sua mulher Lígia Walper, Fernando Mares e Rogério Ferrari), direção de arte (Adriana Borba), melhor ator coadjuvante (Sirmar Antunes) e um troféu especial, que leva o nome de Gilberto Freyre e premia uma obra que se destaca pela maneira como expressa na tela o tema da diversidade cultural e racial. Na categoria curtas em 16 mm, o grande vencedor foi Um Sol Alaranjado, de Eduardo Valente, que ganhou nas categorias de filme, diretor e roteiro (do próprio Valente). Retrato Pintado, de Joe Pimentel, foi o melhor curta de ficção em 35 mm e Marcus Vilar o melhor diretor, por A Canga. Patativa, de Ítalo Maia, foi o melhor curta de animação, também em 35 mm. E Como se Morre no Cinema, de Luelane Loiola Corrêa, foi o melhor curta documentário em 35 mm. Outros prêmios importantes do formato: Yara de Novaes, melhor atriz de curta de ficção, por Todos os Dias São Iguais; Claudio Jaborandy, melhor ator por O Prisioneiro; e Idê Lacreta, melhor montagem de documentário por Glauces: Estudo de um Rosto. Por mais que pareça excessivo destacar a participação do público no Festival do Recife, ela é fundamental. É o que faz a diferença e transforma a mostra pernambucana, cada vez mais, numa experiência humana e artística da qual os diretores brasileiros querem compartilhar. Há outro diferencial no Recife: o festival sempre privilegia um tema geral. Este ano foi "Cinema Nordestino - A Cultura Popular em Projeção", com uma homenagem especial a Ariano Suassuna, que deu sua aula-espetáculo na noite de abertura. Exaltando a diversidade das manifestações culturais nordestinas e a sua associação ao audiovisual, o Festival do Recife mostra que não há um só cinema brasileiro, mas vários. Para expressar a complexidade desse País continental, só mesmo diversos cinemas abrigados sob a bandeira da brasilidade. O repórter viajou a convite da organização do festival

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