O instinto de Sharon Stone, agora em DVD

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Por Agencia Estado
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Sharon Stone estava longe de ser uma desconhecida quando Paul Verhoeven lhe deu o papel de Catherine Tremell em Instinto Selvagem. No dia seguinte ao lançamento, havia nascido uma estrela. A bela Sharon virou mito sexual por suas cenas com Michael Douglas. Esqueceu-se rapidamente seu passado. Poucas atrizes fizeram tantos filmes ruins em Hollywood, nos anos 80. A propósito, Sharon foi convidada a escrever o prefácio de um livro nunca editado no Brasil - Bad Movies We Love, sobre filmes ruins que viraram objeto de culto. Ela já havia trabalhado com o próprio Verhoeven - em O Vingador do Futuro, servindo de escada para que Arnold Schwarzenegger, numa trama futurista, batesse e arrebentasse. Cada vez mais há versões sobre como Sharon conseguiu o papel. Joe Esterhaz, o autor do roteiro, vendido na época por US$ 3 milhões, o valor mais elevado já pago, até então, por um script, odeia Sharon. Foi ele quem contou a história de que ela era tão detestada pela equipe, no set, que os técnicos fizeram questão de urinar na água em que ela devia se banhar. Foi a cruzada de pernas que garantiu o papel a Sharon. É um momento forte do erotismo do filme. No teste, Esterhaz conta que Sharon foi sem calcinha. Deixou todo mundo louco e convenceu o diretor de que Catherine Tremell era ela. Posto que se trata de um filme conhecido do público, campeão de reprises na TV, pode-se contar todas essas coisas antes de lembrar a trama do thriller erótico de Verhoeven. Michael Douglas é o tira da pesada que investiga escritora e psicóloga suspeita de assassinato. Catherine Tremell é bissexual. Foi, aliás, um dos motivos pelos quais Verhoeven virou alvo da ira de gays e lésbicas nos EUA. Acusaram-no de atentar contra os direitos ou de denegrir a imagem de minorias sexuais. Catherine é barra-pesada - consome drogas, assume sua bissexualidade, mata os parceiros na cama. Não admira que o filme termine em aberto, diante da perspectiva de outro crime que inscreve Instinto Selvagem no cinema do círculo. Por tudo o que diz (e faz), Catherine seria uma personagem, digamos, negativa, segundo os códigos tradicionais do cinema americano. Pois não é que o público ficou completamente enredado na teia da personagem? Foi a chance de Sharon, o seu vestibular de estrela. Erotismo - Críticos adoram discutir se o holandês Verhoeven é mesmo um transgressor ou simplesmente um oportunista que gosta de investir no erotismo para aumentar o faturamento de seus filmes. Ele mesmo gosta de dizer que seus filmes trabalham sempre em dois níveis, real e onírico, mas embora seja atraído pela violência afirma que nunca será capaz de recriar na tela as imagens que o assombram - e que remetem à sua experiência de menino, na Holanda ocupada pelos nazistas, em ruas cheias de cadáveres e aviões que explodiam no ar. Vem daí sua atração pelo mórbido. Verhoeven também diz, o que talvez seja particularmente relevante aqui, que seu cinema não é erótico, mas sexual. O sexo de Instinto Selvagem, para os detratores do filme, seria puro marketing para atrair as platéias. Pode até ser, em parte, mas deu certo. Instinto Selvagem fez história. É um bom, belo thriller, que não pode nem deve ser descartado por ser comercial (como opção estética). Por mais bem coreografadas que sejam as cenas de sexo entre Douglas e Sharon - o tira deixando-se envolver e virando caça no jogo de sedução da mulher aranha -, os momentos mais perturbadores de Instinto Selvagem talvez sejam esses planos da estrada, quando Douglas avança na direção de seu carro rumo à casa de Sharon, ao som da partitura de Jerry Goldsmith que recria acordes do hitchcockiano Bernard Herrmann para as fantasias de suspense do mestre. Essa estrada cheia de curvas é a própria vida. Por ela transita a emoção que um filme como Instinto Selvagem logra produzir no espectador. Só cabe lamentar que o lançamento em DVD traga somente o básico. Um filme como esse mereceria alguns extras para valorizar-se ainda mais. Instinto Selvagem (Basic Instinct) - EUA, 1992. Direção de Paul Verhoeven, com Michael Douglas e Sharon Stone. Cor. Columbia. Preço médio: R$ 37,90. Nas locadoras e lojas especializadas.

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