O herói, a batalha e o burrito de frango que vale a mulher

'Battleship - A Batalha dos Mares' é agora o tipo do filme que os críticos amam odiar

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Por Luiz Carlos Merten
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Peter Berg fez carreira modesta como ator, mas o cinéfilo deve se lembrar dele como o jovem ingênuo - um matuto - que se deixa envolver na teia da mulher fatal Linda Fiorentino em O Poder da Sedução, de John Dahl. Aquela experiência deve ter sido decisiva para Berg, não só como ator, mas como homem. Modelou o diretor em que ele se transformou. O Reino, com Jamie Foxx e Jennifer Garner, reinventa o thriller político como ação e arrasa com o mais considerado Zona Verde, de Paul Greengrass, com Matt Damon, com o qual possui similaridades. Battleship - A Batalha dos Mares é agora o tipo do filme que os críticos amam odiar. Blockbuster, barulhento - puro efeitos. Só isso? Não. No seu verbete sobre John Gullermin no Dicionário de Cinema, Jean Tulard, querendo salvaguardar o diretor dos críticos, observa que o cinema espetacular, como se sabe - a frase é dele -, “não é um gênero fácil”. Há uma química que é preciso fazer funcionar, mas nem sempre funciona. Ela envolve elenco, direção, roteiro, um monte de elementos. Acaba de sair no Brasil o livro Invencível, de Laura Hillebrand, a autora de Seabiscuit. Depois de contar a história do cavalo que supera seus limites - e do jóquei que o conduz para ser campeão -, ela resgata a história (real) de um rebelde, o garoto perdido da cidade, que também se supera, vira campeão de corrida e, em plena 2.ª Guerra, se descobre sozinho, num bote destroçado, no meio do oceano. A história desse jovem, enquanto rebelde, parece a do personagem de Taylor Kitsch. O jovem do livro também tem um irmão mais velho, e sábio. Na abertura de Battleship, a Nasa lança um programa de comunicação para os confins do universo, onde existe um planeta como a Terra. Corte para um bar em que o irmão mais velho oferece a Taylor Kitsch sua última chance de ‘recuperação’, que ele desperdiça, trocando-a por um rabo de saia. No começo, o garoto parte para dar à mulher desejada o burrito - de frango - que ela quer comer. No final, o burrito está de volta, fechando um ciclo, mas ainda como um desafio para o agora homem. No intervalo, ele salva o mundo de alienígenas, descobre sua liderança, organiza o grupo. É um herói ‘hawksiano’ (digno de Howard Hawks). É tudo clichê, mas, dependendo do olhar do espectador, tudo se organiza, faz sentido e pode ser emocionante. É um sonho de cinema - a trajetória do herói - e Peter Berg faz o crossover. Reabilita velhos marinheiros (reinventando o Clint de Cowboys do Espaço). Taylor Kitsch derrota os ETs, difícil é convencer o almirante de que merece a mulher amada. A chave é o burrito. Não há tempo nem espaço para falar de Rihanna. É ótima. E o filme, boa diversão.Cotação: Bom

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