O Dia do Cinema Brasileiro em 12 filmes que expressam nossa identidade na tela

Nesta quarta-feira, 19, cinema do Brasil completa 121 anos de existência

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Sempre houve controvérsia quanto ao chamado Dia do Cinema Brasileiro. Ele chegou a ser comemorado em 5 de novembro, porque nesta data, em 1907, o português Antônio Leal teria realizado a primeira filmagem no País. Mas a própria Ancine, a Agência Nacional de Cinema, terminou validando o dia de hoje, porque em 19 de junho de 1898, regressando da França, a bordo do navio Brésil – que zarpou de Bordeaux -, o ítalo-brasileiro Afonso Segreto captou as primeiras imagens em movimento da costa brasileira, utilizando-se do equipamento, o cinematógrafo, que trazia da Europa.

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Comemoram-se nesta quarta-feira, portanto, 121 anos de cinema do Brasil. Uma boa oportunidade – um pretexto? - para se propor uma lista de 10, ou 11, ou 12 filmes que, ao longo de todo este tempo, ajudaram a firmar a identidade brasileira na tela. Não se trata, necessariamente, dos melhores filmes e, como toda lista, essa é subjetiva e não pretende ser definitiva. E, claro, você pode fazer a 'sua' lista. Vamos lá?

Deus e o Diabo na Terra do Sol

'Deus e o Diabo na Terra do Sol' (1965), uma das obras-primas de Glauber Rocha e obra referencial do Cinema Novo Foto: Copacabana Filmes

O vaqueiro Manuel mata o coronel que o explora e foge com a mulher, Rosa. Juntam-se a um bando de beatos, depois, a cangaceiros. Manuel não se encontra em nenhum desses grupos e dispara numa louca corrida rumo ao mar. Como Corisco, Othon Bastos rodopia em torno de si mesmo e a cena do amor tem direito às Bachianas de Villa-Lobos. As imagens afirmam a estética da fome, a trilha de Sérgio Ricardo agrega ao drama – Te entrega, Corisco e O sertão vai virá mar.

Vidas Secas

Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, é adaptação do romance de Graciliano Ramos sobre miséria no Nordeste brasileiro Foto: Sino Filmes

De novo a estética da fome, agora na adaptação do romance de Graciliano Ramos por Nelson Pereira dos Santos. Fabiano, Siá Vitórias, os meninos e a cachorra, Baleia. O som estridente da carrta, a morte de Baleia. Visceral.

Selva Trágica

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A luta pela sobrevivência nos campos de mate, na fronteira paraguaia. Outra adaptação, a do romance de Hernani Donato, por Roberto Farias. O trabalho escravo do homem, a prostituição imposta à mulher. A cena em que o homem tenta levantar a carga gigantesca, feito animal, é das mais impressionantes já filmadas.

Ganga Bruta

O historiador francês Georges Sadoul considerava 'tola' a trama da obra-prima de Humberto Mauro, mas era o prtimeiro a reconhecer suja complexidade narrativa, reunindo o melhor do expressionismo alemão e da escola sdoviértica de montagem. Engenheiro descobre, na noite de núpcias, que a noiva não é virgem e a mata. Crime de honra? Feminicídio? Ele foge para o interior, recomeça a vida. E se envolve com mulher prometida a outro.

O Cangaceiro

Cena do filme 'O Cangaceiro', de 1953 Foto: Columbia Pictures/Divulgação

Supostamente passada no sertão nordestino, a trama foi filmada no interior de São Paulo. O cangaceiro Teodoro, homem de confiança de Galdino, apaixona-se por professorinha sequestrada pelo bando. Oiê, muié rendera... As imagens de Chick Fowle, a direção de Lima Barreto. O primeiro êxito internacional do cinema brasileiro, venceu o prêmio de melhor filme de aventuras em Cannes, 1953.

O Pagador de Promessas

'O Pagador de Promessas' (1963), adaptação da peça de Dias Gomes por Anselmo Duarte que levou a Palma de Ouro em Cannes Foto: Embrafilme

A peça de Dias Gomes filmada por Anselmo Duarte, que chegou a ser, nos anos 1940 e 50, o maior galã do cinema brasileiro. Único filme nacional a vencer a Palma de Ouro em Cannes. Zé do Burro tenta cumprir, carregando pesada cruz, a promessa que fez num terreiro. O padre o impede, cria-se o impasse e Zé, morto na própria cruz, só entra na igreja nos braços do povo.

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Chuvas de Verão

Cena do filme 'Chuvas de Verão', de Cacá Diegues Foto: Embrafilme

Seu Afonso aposenta-se e veste o pijama para nunca mais tirar, mas a vida vem quando ele se envolve com Dona Isaura. Jofre Soares, Miriam Pires, a direção de Cacá Diegues, uma galeria inesquecível de personagens secundários. Um retrato vivo do Brasil.

Central do Brasil

Cena dos bastidores de gravação do filme 'Central do Brasil', com Fernanda Montenegro Foto: Paula Prandini / Estadão

Fernanda Montenegro, como a escrevinhadora Dora, rasga todas as cartas que escreve para analfabetos. Mas, então, por que ela atravessa o Brasil para ajudar o menino Josué/Vinicius Oliveira a tentar encontrar seu pai? Walter Salles e a construção da ética no País dos miseráveis.

Remanescências

E se a primeira filmagem realizada no Brasil fosse a realizada por Cunha Salles em 1897, portanto, anterior à de Afonso Segreto? Sobraram poucos fotogramas – apenas 11, as ondas do mar lambendo o píer na baía de Guanabara -, mas basta isso para que o mais experimental dos autores brasileiros, Carlos Adriano, teça um poema audiovisual de inolvidáveis 18 minutos.

Carnaval no Fogo

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Alguém dirá que o autor da lista está louco – uma chanchada carnavalesca da Atlântida? Watson Macedo e a estética da paródia praticada pelo estúdio. O que faz a diferença é a dupla Oscarito/Grande Otelo, recriando a famosa cena do balcão de Romeu e Julieta.

Edifício Master

Cena do documentário 'Edifício Master' Foto: Videofilmes

O Brasil inteiro cabe naquele prédio de Copacabana em que Eduardo Coutinho eleva ao mais alto grau a arte do encontro com os moradores.

Noite Vazia

Durante os anos 1950, Walter Hugo Khouri carregou os rótulos de 'alienado' e 'sueco', por querer fazer, no Brasil, um cinema existencial como o de Ingmar Bergman. E aí ele flertou com o cinema da solidão e da incomunicabilidade do italiano Michelangelo Antonioni. Na mosca. O Brasil, e São Paulo, vistos pelo topo da pirâmide social. Dois caras ricos, duas prostitutas, duas belas mulheres, Odete Lara e Norma Bengell. Uma noite de sexo, e algo mais.

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