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'Dr. Mukwege', de Thierry Michel, marca o Festival do Rio

Diretor falou português com a reportagem do 'Estado'

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RIO - Thierry Michel brinca com o repórter. Diz que, se os irmãos Dardenne são o número 1 da ficção na Bélgica, ele é o número 1 do documentário. E acrescenta - “Quando jovens, estudamos juntos em Liège. Tenho até hoje fotos que nos mostram como típicos adolescentes, irresponsáveis e bêbados”. O tempo passou para todos. Os Dardenne, sempre em conjunto, viraram os autores talvez mais premiados da história do Festival de Cannes (duas Palmas de Ouro, prêmios de interpretação e roteiro, especial do júri etc). E Michel está no Festival do Rio mostrando Dr. Mukwege - O Homem Que Conserta Mulheres.

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Ele conta - “Virei persona non grata no Congo. Se pisar lá, me prendem. Pior - prometem, me matar”. Dr. Mukwege é sobre a guerra no Congo, em que o estupro vira arma. Só o doutor já atendeu cerca de 40 mil mulheres vítimas de violência sexual. O filme ilumina o trabalho que tem feito de Mukwege um eterno candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Dá voz às mulheres africanas. A Mukwege, que além de médico, é pastor - termina com um de seus sermões. Thierry Michel fala em português com o repórter. Diz que aprendeu há 28 anos, quando fez um filme na favela do Rio, acompanhando com sua câmera dois garotos, e um foi morto no tráfico. “Fiquei amigo de um chefão e seu lugar-tenente, com inveja, ameaçou me matar.”

O perigo acompanha Michel, mas, às histórias de morte, ele prefere as de vida. Celebra a força do cinema como arma de conscientização. “Dias 21 e 23 vou mostrar Dr. Mukwege, o filme, no Congresso norte-americano e nas Nações Unidas.” Ele sabe da necessidade política de seu filme, mas não descuida da arte. “Estou muito orgulhoso de minha trilha. Misturo Bach com canções congolesas e uma trilha especialmente composta para O Homem Que Conserta Mulheres.” O cartaz do Festival do Rio anuncia - ‘Aqui, você vê o mundo”. O cinema como janela para a descoberta e o entendimento do outro. Diversidade estética e cultural. 

Alguns exemplos. Coprodução hispano-argentina, Truman, de Cesc Gay, mostra como Javier Cámara atravessa meio mundo para reencontrar, em Madri, o amigo que está morrendo de câncer. Ricardo Darín é quem faz o papel. Sua única preocupação é se assegurar de que seu cachorro - Truman - não ficará abandonado. O são-bernardo é dócil. Olha para a câmera e para Cámara e Darín como se realmente entendesse o que ocorre. Darín é Darín, um grande ator minimalista. Cámara é gay de carteirinha no cinema de Pedro Almodóvar. Interpreta um personagem sério, denso e hétero. É extraordinário. Não existe Redentor para melhor ator estrangeiro. Poderia ir para Javier Cámara. Também não existe Redentor Dog, como em Cannes (a Palme Dog). Teria de ir para o são-bernardo.

By Sidney Lumet, de Nancy Bulrski, dá a palavra ao diretor de O Homem do Prego, Serpico, Dia de Cão e outros grandes filmes. Lumet fala sobre o que lhe interessa como homem e artista. O social, com certeza, mas não apenas. O homem não é definido apenas pelo meio social, mas por suas escolhas. Outro documentário, Futuro Junho, de Maria Augusta Ramos, segue quatro operários de São Paulo no período anterior à Copa do Mundo de 2014, quando, em todo o País, realizavam-se manifestações contra o evento. Se isso conta alguma coisa, Variety, a Bíblia do show biz norte-americano, siderou pelo filme. Disse que é ‘superb’, ‘a masterpiece’. Maria Augusta, que já é autora de uma impecável trilogia sobre a Justiça - Justiça, Juízo e Morro dos Prazeres -, pensa São Paulo como gente grande e isso você vai ver na Mostra, daqui a pouco. Tanto drama. Um pouco de comédia para variar. Micróbio & Gasolina, de Michel Gondry, sobre amizade de dois garotos, é deliciosamente autobiográfico.

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