"O Closet" discute a saída do armário

Comédia de Francis Veber (A Gaiola das Loucas nem sempre consegue ser eficiente desta vez. Daniel Auteuil é o homem que se assume para não perder o emprego

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Por Agencia Estado
Atualização:

Logo no começo de O Closet os funcionários de uma empresa são convocados para tirar um retrato de família da firma. Eles cercam o dono (Jean Rochefort), em frente do prédio. Ocorre um pequeno problema. O fotógrafo não consegue enquadrar o ´monsieur´ da esquerda, aquele com a espalhafatosa gravata vermelha. Daniel Auteuil fica fora da foto. Daqui a pouco, está ameaçado de ser despedido, de ir para fora da empresa. Faz-se passar por homossexual para manter o emprego. É aí que verdadeiramente começa O Closet. Será que ele é? A comédia de Frank Oz com Kevin Kline era mais engraçada, com seu compêndio de dicas para saber se um cara é gay ou não. Dançar mexendo o bumbum, gostar de Barbra Streisand. As dicas de Oz podiam ser incorretas, mas eram hilariantes. O diretor e roteirista Francis Veber é mais grave em O Closet. Você pode perguntar-se se ele, Veber, é? O homossexualismo é sua obsessão. Escreveu A Gaiola das Loucas, Partners. Escreve e agora dirige O Closet. Talvez o homossexualismo não seja o tema do filme, mas dois sentimentos a ele associados: a homofobia e a homofilia. Pois imediatamente, tão logo o personagem de Daniel Auteuil sai do armário, o olhar das pessoas sobre ele muda e esse é o verdadeiro tema de Veber. Auteuil chega a dizer, lá pelas tantas: Depois que virei homossexual, não me sinto outro homem. É a mensagem do autor, que trata da ´normalidade´ dentro do homossexualismo. Auteuil não vira uma drag queen, não desmunheca. E, na segunda parte do filme, tenta reassumir sua dignidade de homem, independentemente de opção sexual. Veber já foi chamado de ´sociólogo do riso´ na França. Seus admiradores (que ele possui) acham que o cineasta consegue revelar, com a arma do humor, os preconceitos do francês médio, que não faz justiça ao cosmopolitismo quase sempre associado à França e a Paris, que já foi a capital cultural do mundo. Há idéias interessantes em O Closet. Há bons momentos: a antológica cena do refeitório, com Gérard Depardieu, perfeito no seu papel de durão de coração mole. O problema é o humor popular francês, no qual Veber se inscreve. Fica abaixo de A Praça É Nossa, o que já é o último degrau na descida do bom gosto. Justamente ele: o próprio Billy Wilder, um gênio, com freqüência apelava para a vulgaridade e o mau gosto para ser eficiente. A questão do humor é essa. O Closet (por que não O Armário?) tenta ser eficiente. Nem sempre consegue. Serviço - O Closet (Le Placard). Drama. Direção de Francis Veber. Fr/2001. 14 anos

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