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O cineasta Marcelo Gomes vai filmar 'Joaquim', obra sobre o inconfidente Tiradentes

Diretor pernambucano convidou o ator João Miguel para interpretar o herói republicano em longa que começa a ser rodado em junho

Por Amilton Pinheiro
Atualização:

Há 20 anos, o diretor pernambucano Marcelo Gomes lançava seu primeiro curta-metragem Maracatu, Maracatus, sobre a dança folclórica bastante difundida em seu estado. Nesse primeiro trabalho por trás da câmera, o diretor já mostrava sua linguagem cinematográfica e suas intenções de cronista. O curta misturava ficção e documentário ao mostrar um personagem falando sobre a importância do maracatu na cultura dos negros e as pessoas se preparando e dançando o ritmo afro-brasileiro. 

O cineasta Marcelo Gomes em Taquaritinga do Norte, interior de Pernambuco Foto: Thercles Silva/Divulgação

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Depois de outro curta, Clandestina Felicidade, codirigido por Beto Normal e de quatro longas (Cinema, Aspirinas e Urubus; Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, em parceria com Karim Aïnouz, Era Uma Vez Eu, Verônica e O Homem das Multidões, codirigido por Cao Guimarães), Marcelo Gomes vai fazer um filme, que começa a ser rodado em junho, sobre o herói republicano Tiradentes, que já foi tema de três outros longas. O filme irá se chamar Joaquim, e vai ser interpretado por João Miguel, que trabalhou com o diretor em Cinema, Aspirinas e Urubus e Era Uma Vez Eu, Verônica. “Quero tratar do homem e não do mito. O filme vai se ater sobre um período especifico da vida dele, quando constitui sua consciência política. O filme vai ser um crônica e não uma novela”, esclarece o diretor. 

O longa foi orçado em R$ 2 milhões (já captou R$ 1,5 milhão) e será rodado na região de Diamantina abordando um período da vida de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em que ele toma consciência dos problemas sociais ao seu redor e da exploração da Coroa Portuguesa. Isso acontece dez anos antes da Conjuração Mineira. 

“É nesse momento que o País está sendo forjado. Estamos falando de uma região que vivia o ciclo do ouro e de uma elite local que queria o poder político. Vou tratar das relações sociais estabelecidas naquele momento entre escravos, portugueses e brasileiros. Depois das manifestações em junho de 2013, no Brasil, esse tema entrou na pauta das pessoas”, diz. 

Cena do filme 'Cinema, Aspirinas e Urubus',de Marcelo Gomes Foto: Gil Vicente/Divulgação

O diretor está selecionando parte do elenco, que vai contar, além do João Miguel, com atores do grupo de teatro mineiro Espanca e profissionais portugueses. Indagado sobre se o orçamento será suficiente, já que se trata de um filme histórico, Marcelo Gomes está confiante. “O Brasil colonial era bastante miserável, éramos um país em ruínas”. 

Gomes assistiu aos três longas sobre Tiradentes e gosta especialmente do filme dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, Os Inconfidentes (1972). Todos, porém, abordam a Inconfidência Mineira e fortalecem o mito por trás do homem. “Esse homem que foi construído à semelhança de Cristo e mitificado pela República e a ditadura militar não me interessa. Quero a contradição dele, suas fraquezas e sua consciência política”, explica. 

O cineasta pernambucano chegou a cursar engenharia em Recife, frequentou cineclube em sua cidade natal e foi estudar cinema no interior da Inglaterra. Quando voltou, no início dos anos 1990, juntou-se a outros cineastas, como Lírio Ferreira, Cláudio Assis e Paulo Caldas, para batalhar por editais do governo estadual. 

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Para ele, essa junção de talentos locais, que se ajudam mutuamente, e o fomento público explicam a força do cinema pernambucano. Por que fazer cinema? “Faço cinema para entender o que me foge a compreensão. Gosto de dividir com o espectador essa minha incompreensão a respeito do mundo, das pessoas e das coisas”. 

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