O Cine Belas Artes sai de cartaz

Um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo fecha suas portas nesta quinta-feira. Os custos de aluguel do prédio são a causa principal. A enorme perda cultural já fez surgir um movimento organizado, o Viva o Belas Artes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Amanhã, pouco antes da meia-noite, será apresentada a última sessão do cine Belas Artes, um dos cinemas mais tradicionais da cidade, que completou 35 anos em 2002. Na tela da sala Cândido Portinari, uma das seis que integram o prédio na Rua da Consolação, será exibido Casamento Grego, típico filme romântico americano com final feliz. Um desfecho bem oposto ao do cinema, que fecha suas portas demitindo 20 funcionários e que está com suas salas com péssimo estado de conservação. As salas, batizadas com nomes de importantes artistas do País - de Aleijadinho a Cândido Portinari - podem dar lugar a um novo e moderno cineclube, um estacionamento vertical ou até mesmo a mais um templo evangélico. A administração do cinema foi procurada pelo Jornal da Tarde, mas não atendeu a reportagem. "A direção do grupo Alvorada, que controla o cinema, alegou que o aluguel do prédio está muito caro e não há muito público, por isso, vai desativar as salas", diz um funcionário do cinema que preferiu não se identificar. Diante da notícia do fim do cinema tradicional, foi fundado o Movimento Viva o Belas Artes, encabeçado por Roberto Loeb, arquiteto que já trabalhou em vários centros culturais da cidade, entre eles, o Instituto Itaú Cultural, na vizinha avenida Paulista. Formado por cineastas, estudantes e jornalistas, além de profissionais de várias áreas interessados em cultura, o Viva o Belas Artes é bem recente. Foi organizado há 15 dias. "Os diretores do cinema, provavelmente para continuar com as negociações, não anunciaram a desativação das salas. Por isso, não pudemos nos organizar há mais tempo", justifica Loeb. Segundo o arquiteto, a história sobre a desativação começou a vazar há 15 dias, com boatos entre os funcionários que comentavam com o público mais assíduo do cinema. "Nesta quinta-feira, último dia do Belas Artes, pretendemos colocar uma faixa na frente do cinema", diz a jornalista Sonia Morgenstern Russo, vice-presidente do movimento. "Além da faixa, vamos organizar eventos reunindo freqüentadores do Belas Artes e fãs de cinema em geral. Vamos fazer de tudo para que as salas não se transformem em estacionamento, templo ou qualquer estabelecimento fora do ramo cultural", completa Sonia. O Movimento Viva o Belas Artes não pretende se concentrar apenas nas salas do cinema. "Nosso foco é preservar todo este cruzamento entre as avenidas Paulista, Rebouças, Consolação e Dr. Arnaldo", revela Loeb. Entre os planos do grupo, está a regulamentação dos camelôs-sebo, das banquinhas esotéricas no final de semana, além de um projeto pedindo à Prefeitura mais iluminação e segurança no cruzamento. "A decadência na região teve início há dez anos, quando começaram os furtos de carro na rua. Então a população trocou os cinemas de bairro pelos multiplex dos shoppings. Depois, houve uma polêmica sobre a situação das salas do Belas Artes: cheias de goteira, com as cadeiras se desmantelando e um som horroroso. Finalmente, o cinema fecha as portas. Agora, a sociedade deve se mobilizar para reverter a decadência", diz Loeb. E o arquiteto completa: "O Belas Artes está quarentão. Mas não dizem que a vida começa aos 40 anos?"

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