O céu é o limite para Natalie Portman

Em ‘Lucy in the Sky’, atriz é astronauta que tem sua vida mudada ao voltar para a Terra

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Por Kathryn Shattuck
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Natalie Portman vai viver a versão feminina de Thor no filme 'Love and Thunder', que estreia em 2021. Foto: Rozette Rago/The New York Times

Quando criança, mente precoce para a ciência, ela chegou às semifinais da competição Intel no ensino médio, afinal, Natalie Portman sonhava em se tornar uma astronauta. Mas como atriz acabou integrando-se a estrelas menos celestiais. Portanto, o papel de Lucy, cujo encontro com a vastidão do universo, durante missão da estação espacial, desencadeia uma crise existencial na Terra em Lucy in the Sky, de Noah Hawley, foi “um pouco a realização de um sonho”, admitiu Portman. E não era só a perspectiva de vestir um traje espacial. “Só ver uma mulher em sua completa humanidade, com defeitos, pontos fortes, é uma sorte”, disse ela. “Muitas vezes, uma mulher é adorável, ou durona, ou uma vilã. Você poderia resumi-la em uma palavra”, afirmou. “No final, você não fica com um sentimento único sobre Lucy.”

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Lucy in the Sky, ainda sem previsão de estreia no Brasil, é vagamente baseado na história da ex-astronauta Lisa Nowak, feita como uma luva para os tabloides, famosa por viajar em 2007 de Houston a Orlando para atacar a nova namorada de seu ex-amante, usando fraldas para economizar tempo em sua jornada.

Infelizmente, não há fraldas em Lucy in the Sky, omissão que frustrou o público. “O filme é ficção, diferentemente do ponto de onde partiu a ideia”, conta Portman.

Vencedora do Oscar em Cisne Negro e franca defensora do Time’s Up, Portman em breve estará vivendo outra mulher Tipo A: em julho, na San Diego Comic-Con, ela levantou o martelo para o alto, pois fora revelado que sua personagem da Marvel, Jane Foster, seria ungida como um Thor feminino em Thor - Love and Thunder, previsto para 2021.

'Cisne Negro'. Papel rendeu Oscar de melhor atriz a Natalie Portman em 2011 Foto: FOX SEARCHLIGHT PICTURES

Ligando de Los Angeles, onde mora com o marido, o coreógrafo e cineasta Benjamin Millepied, e seus dois filhos pequenos, Portman, de 38 anos, falou sobre como navegar em um mundo tradicionalmente masculino, tanto na tela quanto fora dela. Esses são trechos editados da conversa.

Vamos começar com o mistério da fralda. Por que não existe uma e o que há com essa nossa fixação?

Bem, acho que foi detalhe picante da história real. Para nós, não era disso que se tratava. Estávamos tentando entrar no coração dos humanos e não o tornar escandaloso. Parece ser um sintoma da cultura que cria iscas para cliques, pois colocar meu nome e fralda na mesma frase provavelmente seja útil para os jornalistas.

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Lucy tem uma experiência de alteração da mente enquanto flutua sozinha no espaço, que faz a vida em Houston parecer subitamente tão pequena. Você já experimentou algo semelhante?

Você quer dizer, como uma crise existencial? (Risos) Percebendo nossa insignificância e depois ponderando isso com o quanto você sente tudo. Não conheço um ser humano que não tenha enfrentado isso em algum momento.

E, no entanto, quando Lucy se comporta como um homem competindo pela próxima missão, seu supervisor a castiga por ficar muito emocional.

Noah Hawley me fez ver Os Eleitos - Onde o Futuro Começa, de 1983, como preparação para ter uma noção daquele ambiente extremamente competitivo, arrogante e nebuloso que ocorre na Nasa para conseguir tais lugares em voos. Essas personalidades temerárias que estão dispostas a amarrar-se a uma bomba e mergulhar no oceano basicamente em uma concha de metal que, simplesmente, cai do espaço. Quero dizer, é mesmo uma loucura o que eles estão fazendo e isso exige uma personalidade muito específica.

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E quando você vê os homens fazendo isso em Os Eleitos, tudo parece tão divertido e de boa índole - caras apenas brincando um com o outro, sabe? Mas quando você vê a mim e Zazie (Beetz, a rival de Lucy) fazendo isso, sai algo do tipo: “Oh, essa é uma mulher maldosa no seu trabalho”.

Penso que é o mesmo que ela sente quando seu traje começa a encher de água. Ela sente que se um homem fizesse isso, as pessoas diriam: “Oh meu Deus, veja. Ele fará qualquer coisa para terminar a missão. Que herói”. Com ela, eles dizem: “Oh, você é imprudente e emocional”.

Na verdade, não tinha água no capacete nessa cena, tinha?

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Enchemos o capacete com água, o que foi assustador, porque aparentemente isso é algo difícil de fazer com a atual tecnologia de efeitos especiais. Não sou essa personalidade temerária, então esse foi um dia desafiador. Basicamente, prendi a respiração o máximo que pude e depois saí do capacete, assim que não consegui mais prender a respiração. (Risos) Foi uma cena menos agradável de se fazer, devo admitir.

O que mais chamou atenção na pesquisa com astronautas?

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É interessante observar uma profissão em que geralmente há uma mulher em cada voo. Até mesmo essa história recente sobre como duas mulheres (estavam programadas para fazer a primeira caminhada espacial totalmente feminina), mas elas acabaram tendo apenas um traje e uma delas não podia ir - o que era muito insano - mostra essa ideia de que existe só uma reserva para uma mulher, como existem tantas vezes em posições poderosas. Há um assento para uma mulher na mesa do conselho ou em qualquer outra coisa.

A situação de Lucy me lembra o discurso que você recomendou: 'Pare com a retórica de que uma mulher é louca ou difícil'. O que me leva a 'Time’s Up'. O que mais se orgulha de ter realizado?

Foi realmente impressionante como o Time’s Up conseguiu moldar a conversa em relação à igualdade salarial e promovê-la. Obviamente, o time de futebol feminino dos Estados Unidos foi realmente crucial para moldar essa conversa. Michelle Williams só foi mais longe (em seu discurso de aceitação do Emmy). Foi realmente incrível ver como a cultura está mudando ao se falar disso. Então, as recentes mudanças na lei de Nova York que foram pró-sobreviventes de assédio sexual, abuso e agressão também foram realmente incríveis. Eu acho que toda a conversa - mulheres falando umas com as outras, mulheres dando mais declarações públicas - é inspiradora para cada uma de nós. Isso nos torna mais capazes de saber até como articular o que estamos sentindo, do que precisamos. Ainda há muito o que fazer, mas também houve uma mudança muito rápida e parece que todos nós tivemos uma evolução na velocidade da luz nos últimos anos.

Você está prestes a embarcar em um novo filme de Thor, o seu primeiro desde 'Thor - O Mundo Sombrio' em 2013. Três anos atrás, você disse que, até onde sabia, ia parar por ali. Como a franquia a seduziu de volta?

O terceiro não acontece na Terra, onde Jane mora, então não fazia sentido eu estar lá. Quando o diretor Taika Waititi me trouxe essa ideia - de eu ser Thor feminino - era uma perspectiva empolgante. A Marvel tem sido maravilhosa ao fazer seus filmes parecerem mais um reflexo do mundo e ter super-heróis de todos os tipos diferentes de pessoas. E ter tantas protagonistas femininas (com Angelina Jolie como Thena em Os Eternos) também é muito emocionante. O filme Viúva Negra (com Scarlett Johansson) parece incrível.

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Como é, afinal, tornar-se um super-herói?

Adoro ser parte de algo que é importante no entretenimento para os jovens. Isso define sua mentalidade para reconhecer a injustiça. Recentemente, vi uma placa na marcha pelo clima na qual um garoto anunciava: “Eu cresci com os filmes da Marvel. Claro que vou lutar contra o que está errado”.

E quão pesado é esse martelo?

(Risos) É pesado. Fiquei surpresa.

TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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