O centenário de Yul Brynner, ator de 'O Rei e Eu' e 'Os Dez Mandamentos'

Oscar do ator, cuja data de nascimento completa 100 anos neste sábado, foi um dos mais contestados da história. Relembre os seus principais sucessos

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Eles morreram no mesmo dia, Orson Welles, o imortal criador de Cidadão Kane, e Yul Brynner - 10 de outubro de 1985. Welles morreu aos 70 anos, nascera em 6 de maio de 1915. Brynner, aos 65 - nasceu em 11 de julho de 1920, o que significa que neste sábado se comemora o centenário de seu nascimento. Nasceu Yully Borisovich Briner, segundo algumas fontes numa ilha remota da Sibéria Oriental, mas ele próprio teceu a lenda de que era natural de Vladivostok, junto às fronteiras da China e da Coreia do Norte.

A cidade sempre foi conhecida como a estação final da Ferrovia Transiberiana, o que no imaginário universal significa - um lugar no fim do mundo. Foi de lá que ele veio. Estudou em Paris e, aos 13 anos, ligou-se a um grupo de músicos, Foi trapezista e mímico no Circo de Inverno, maquinista no Teatro des Mathurins. Em 1941, desembarcou em Nova York integrando uma trupe de teatro moscovita. Pelos mais de 40 anos seguintes, tornou-se um ator russo-americano.

A atriz Deborah Kerr (esquerda) interpreta a personagem Anna Leonowens com o ator Yul Brynner, representando o rei Mongkut do Sião em uma cena de seu filme de 1956 'O Rei e Eu'. Foto: REUTERS/Courtesy A.M.P.A.S

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Em 1945, já era um nome na Broadway. Quatro anos mais tarde, estreou cabeludo no cinema, num papel de gângster intenso e sedutor em Porto de Nova York, de Laslo Benedek. Mais alguns anos e ele estourou - na Broadway - na versão musical de Anna e o Rei do Sião, por Rodgers e Hammerstein. A história de Anna Leonowens deu origem ao livro de Margaret Landon que John Cromwell filmara com Irene Dunne e Rex Harrison em 1946. Ganhou canto, dança e virou O Rei e Eu. Para fazer o papel - Deborah Kerr era a sua Anna - Brynner raspou a cabeça e a careca tornou-se sua marca registrada. Físico atlético que o figurino exótico deixava parcialmente à mostra, voz grave, a origem que ele apregoava como mongol. Tudo isso contribuía para a aura. Tinha até um nome alternativo - Tadji Khan.

Em 1956, a versão cinematográfica de O Rei e Eu, por Walter Lang, ganhou Oscars de trilha, direção de arte e figurinos em cores, som e o mais luminoso de todos, o de melhor ator para Brynner. Nos anos seguintes e sempre explorando sua persona exótica e sexy/viril, ele interpretou sucessivamente um faraó, um nobre russo, um pirata francês, o rei Salomão, Taras Bulba, um príncipe maia e, em meio a todos eles, conseguiu fazer um personagem de pistoleiro que se tornou tão icônico como o rei do Sião. Chris, de Sete Homens e Um Destino/The Magnificent Seven, retornou em A Volta dos Sete Homens, de Burt Kennedy, e virou máquina na adaptação, por Michael Crichton, de sua fantasia científica. Westworld, de 1973, ganhou no Brasil o acréscimo de Onde Ninguém Tem Alma ao título original.

Todos esses filmes e papeis - Os Dez Mandamentos, Os Irmãos Karamazov, Salomão e a Rainha de Sabá, Lafitte o Corsário, Os Reis do sol, e também Ainda Uma Vez com Emoção, Morituri, Convite para Um Pistoleiro, A Louca de Chaillot, etc - mostravam Yul Brynner multiplicando-se para permanecer sempre o mesmo. E foi assim que ele impôs o cosmopolitismo no star system de Hollywood. Tornou-se globe-trotter, levando sua estrela à França (O Testamento de Orfeu, de Jean Cocteau) e Itália (Adeus, Sábata, de Gianfranco Parolini). Voltou a ser cabeludo em Villa, o Caudilho, de Buzz Kulik, de 1968, medíocre apesar do roteiro coescrito por Robert Towne e Sam Peckinpah.

Nunca foi um grande ator, e o seu Oscar foi um dos mais contestados da história. Naquele ano, quem deveria ter vencido, segundo os críticos, era Kirk Douglas, pelo Van Gogh de Sede de Viver/Lust for Life, de Vincente Minnelli. Mas a Academia preferiu Brynner, talvez porque ele estivesse em três filmes, todos indicados para o prêmio em muitas categorias. Os outros dois eram Os Dez Mandamentos, de Cecil B. de Mille, e Anastásia, A Princesa Esquecida, de Anatole Litvak, pelo qual Ingrid Bergman venceu seu segundo Oscar. O prestígio do prêmio pesou sempre em seu currículo. Quando as grandes produções começaram a escassear para ele, voltou ao palco no revival de O Rei e Eu. Presença nunca lhe faltou, na tela e no palco. Morreu de câncer no pulmão.

Os principais filmes de Yul Brynner:

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O Rei e Eu

De Walter Lang, 1956. O rei do Sião contrata governanta inglesa para educar seus numerosos filhos. Os choques de temperamentos e cultura são inevitáveis, mas com happy end. O musical de Rodgers e Hammerstein numa versão meio pesadona, mas visualmernte suntuosa. Oscar de melhor ator para Brynner, Deborah Kerr é dublada por Marni Nixon. Canções - Getting To Know You e Shall We Dance?

Os Dez Mandamentos

De Cecil B. De Mille, 1956. O Êxodo, com efeitos avançados para a época. A Bíblia, segundo De Mille - sexo + violência. Como Moisés, Charlton Heston carrega as tábuas da lei, mas Brynner, como faraó, com aquele figurino, tem presença (e exibe o corpo atlético).

Anastásia, a Princesa Esquecida

De Anatole Litvak, 1956. Brynner seleciona refugiada que perdeu a memória para se passar pela herdeira dos Romanovs. Na grande cena, Helen Hayes, como as grã-duquesa, confronta a suposta neta: Ela é, ou não é? Ingrid Bergman ganhou o segundo Oscar e foi readmitida em Hollywood, após o intermezzo com Roberto Rossellini na Itália. O elenco, e isso inclui Brynner, faz a diferença.

Salomão e a Rainha de Sabá

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De King Vidor, 1959. Brynner foi chamado às pressas para substituir Tyrone Power, que morreu durante as filmagens. Cenas dele à distância foram mantidas. Gina Lollobrigida faz Shebah e o filme tem seus momerntos, mas foi uma pálida despedida para o grande diretor famoso pelo erotismo de suas heroínas.

Sete Homens e Um Destino

De John Sturges, 1960. O vibrante western que transpõe Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, para o Wild West, na fronteira mexicana. Brynner faz Chris, que recruta os sete pistoleiros (Steve McQueen, James Coburn, Charles Bronson, etc). Ele caminha daquele jeito que marcou o personagem e depois foi reproduzido como robô em Westworld.

Ainda Uma Vez com Emoção

De Stanley Donen, 1960. Mesmo não estando à altura dos melhores momentos do diretor (Cantando na Chuva, Sete Noivas para Sete Irmãos, Um Caminho para Dois), essa comédia sobre a vida sexual de casais tem sua graça. Kay Kendsall, em seu último papel, é ótima como a insatisfeita mulher de um maestro caprichoso - Brynner.

Dois Homens Iguais

De Franklin J. Schaffner, 1967. No auge das tramas de espíonagem, Brynner faz agente da CIA atraído aos Alpes suíços, onde o serviço secreto dos soviéticos tenta substituí-lo por um duplo. Britt Ekland perceberá a mudança? Schaffner, antes de O Planeta dos Macacos (e Patton, Rebelde ou Herói?), admitia que fez o filme por dinheriro. Mas tem boas cenas de ação na neve, além de Brynner em dose dupla.

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Adeus, Sábata

De Gianfranco Parolini, 1970. Como Frank Kramere, o diretor já fizera uma série de Sábata com Lee Van Cleef. Brynner faz agora o pistoleiro que rouba ouro de Maximiliano para manter o movimento revolucionário no México. Como em todo spaghetti western, o que importa é a música - de Bruno Nicolai.

Westworld - Onde Ninguém Tem Alma

De Michael Crichton, 1973. Os amigos Richard Benjamin e James Brolin tiram férias, e aonde vão? A uma Disneylândia para adultos, composta por núcleos temáticos. Escolhem o Velho Oeste, mas os robôs escapam ao controle e eles são perseguidos por Brynner, reproduzindo o pistoleiro Chris de Sete Homens e Um Destino. Uma ficção científica notável pelo futuro escritor de Jurassic Park (onde os clones substituem robôs).

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