Novo filme de Xavier Dolan trata de um colapso familiar

Jovem diretor canadense conta em É Apenas o Fim do Mundo a história do personagem que volta para casa depois de longa ausência e enfrenta conflitos

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Um filme que se anuncia com o título de É Apenas o Fim do Mundo faz pensar em algo de apocalíptico. Podemos imaginar a derrocada de uma civilização, ou uma guerra, ou uma catástrofe natural de proporções bíblicas. Xavier Dolan o usa, no entanto, para descrever o colapso de uma família. Não chega a ser uma hipérbole. Quando afunda essa unidade fundamental da continuidade das gerações, dos afetos e da libido, é mesmo como se fosse o fim de um mundo.

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Eis aí a história montada pelo jovem diretor canadense em seu sexto longa-metragem, a partir da peça homônima de Jean-Luc Lagarde. Louis (Gaspard Ulliel) é o rapaz que volta à casa para dar a notícia de que está doente e tem pouco tempo de vida. Num ambiente rural, e não despido de encanto pastoril, ele reencontra a mãe (Nathalie Baye), a irmã menor Suzanne (Léa Seydoux), o irmão mais velho, Antoine (Vincent Cassel), e a cunhada Catherine (Marion Cottillard).

A mãe é uma senhora de certa idade, que deseja ser moderna e jovem a qualquer custo. A irmã Suzanne sente-se presa no campo, peixe fora d’água que deseja nadar em outras águas. A cunhada Catherine é oprimida e anulada pelo marido Antoine. Este é um poço de agressividade contra todos e, em especial, contra Louis, com quem mantém uma rivalidade mortal vinda da infância. Louis, por sua vez, é mostrado como pessoa calma, quase indiferente, esponja que absorve as queixas, agressões e reivindicações que recaem sobre ele. A ponto de se esquecer da notícia triste que veio trazer.

É possível descrever os personagens com esses rasgos de caráter. Mas seriam traços gerais, caricaturas para tipos bem mais complexos, nuançados e contraditórios. Pode-se dizer que Dolan os filma com a riqueza dos matizes que compõem o material humano. Para intensificar a opção, enquadra cada um deles de muito perto, em closes, ou supercloses, de modo a explorar ao máximo o território dramático do rosto humano.

Com essa trama, e esses personagens, o filme instaura uma tensão inaudita. Um cinema mais acomodado teria feito de tais conflitos meros obstáculos dramáticos, afinal transponíveis, para a reconciliação final. Dolan aumenta a tensão para, mais uma vez, insinuar que a redenção é impossível, e tudo naufraga nesse ambiente de ressentimentos cruzados e alienação mútua. Afinal, é bem de um fim de mundo que se trata.

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