Novo filme de Scorsese pára Cannes

Diretor mostrou apenas 20 minutos de seu novo filme, Gangues de Nova York, mas foi recebido com toda a pompa dentro da programação oficial. A sessão provocou empurra-empurra na entrada e muitos convidados e jornalistas ficaram de fora

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Por Agencia Estado
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De tão agressivas, as campanhas de marketing já não esperam mais o filme ficar pronto. A exemplo de Peter Jackson que exibiu em Cannes no ano passado 20 minutos de O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, Martin Scorsese fez hoje na Croisette uma sessão aperitivo de seu tão aguardado Gangues de Nova York - com estréia prevista nos Estados Unidos em dezembro deste ano. Trouxe a tiracolo dois atores do elenco: Leonardo DiCaprio e Cameron Diaz. A estratégia casou perfeitamente com a proposta do festival francês - a de mesclar cinema de autor com o glamour hollywoodiano. Afinal, a multidão que se acotovela todos os dias na entrada do Palais du Festival quer ver (e se possível, fotografar) rostos famosos. Aproveitando-se da presença da imprensa especializada, cerca de 4 mil jornalistas, Scorsese mostrou uma compilação de imagens de sua superprodução no famoso Grand Théâtre Lumière. A sessão, que provocou empurra-empurra na entrada e deixou muitos convidados e jornalistas para fora, teve direito a tapete vermelho. Foi uma das raras vezes em que um filme inacabado é recebido com toda a pompa dentro da programação oficial do festival às margens do mar Mediterrâneo. O Senhor dos Anéis foi um evento paralelo. "Com a idade, estou demorando cada vez mais para terminar um filme", contou Scorsese durante a coletiva de imprensa, após a exibição do clipe de 20 minutos. As filmagens de Gangues de Nova York, um épico sobre as guerras brutais entre gangues em Manhattan no século 19, tiveram início em agosto de 2000. "Cresci no bairro onde se passa a história. Desde os meus 10 anos quero contá-la", afirmou Scorsese, que rodou o título até abril de 2001. O filme deveria ter sido lançado originalmente em dezembro de 2001, credenciando-se assim ao Oscar que foi entregue em março último. Mas a estréia teve de ser adiada primeiramente para julho deste ano, passando mais recentemente para dezembro - de olho, obviamente, nas indicações da Academia para o ano seguinte. Parte do atraso foi atribuído pela imprensa a supostos desentendimentos que Scorsese teria tido com Leonardo DiCaprio e com o co-presidente da Miramax, Harvey Weinstein. Diante da imprensa, tudo foi negado. "Nós só fechamos o set de filmagem para jornalistas para podermos nos concentrar melhor. Você se lembra de alguma briga nossa?", perguntou Scorsese a DiCaprio, sentado a seu lado na coletiva. "Não que eu me lembre", disse o ator, acrescentando que se sentiu "honrado" por trabalhar com um cineasta de sua estatura. "Sei que é um clichê dizer isso, mas é verdade." Weinstein admitiu que tem pressionado Scorsese para terminar o filme, mas desmentiu as desavenças. "Tivemos de chegar a um acordo quanto à duração do longa. Mas o estardalhaço que a imprensa fez a respeito foi exagerado", contou o co-presidente, que acabou convencendo o diretor a cortar o filme. "Tinha mais de três horas, mas ficará com duras horas e quarenta. E esta será a versão definitiva. Não vou fazer versão do diretor para DVD", contou Scorsese. Atualmente em fase de edição, o cineasta ressaltou apenas que ainda pretende voltar ao set por quatro dias para rodar cenas complementares. Com orçamento entre US$ 90 milhoes e US$ 100 milhoes (25% a mais do que o previsto), Gangues de Nova York é o filme mais caro da história da Miramax. Pelas imagens exibidas, Scorsese parece mesmo apostar no caráter obscuro e violento do período que ele chama de "o início dos Estados Unidos". "O país deveria se destinar a todas as nacionalidades do mundo. Mas não foi bem assim", disse o cineasta, comentando que há anos desejava trabalhar com Leonardo DiCaprio. "Quando Robert De Niro contracenou com Leo em O Despertar de um Homem, em 1993, me avisou para ficar de olho nele." O personagem de DiCaprio é Amsterdam Vallon, um imigrante irlandês que acaba envolvido com as gangues de Manhattan, experimentando a corrupção e a violência. Com os cabelos mais escuros, compridos e cacheados no filme, Cameron Diaz é Jenny Everdeane, a ladra que confere sensualidade ao filme. Para o papel do líder de uma das gangues, Bill, O Açougueiro, inicialmente havia sido anunciado o nome de Robert De Niro - já que Scorsese disse inúmeras vezes que quer retomar a parceria com o ator. Willem Dafoe foi o segundo a ser cogitado, mas o papel caiu mesmo nas mãos do ator Daniel Day-Lewis. "Quando conheci Daniel, ele já estava mergulhado no personagem. Só ao reencontrá-lo meses depois do término das filmagens é que realmente o conheci. De tão intenso, ele se transforma completamente", comentou Cameron Diaz, que desfilou sorridente pelo tapete vermelho, usando um vestido preto longo e decotado atrás. Embora seja um chamariz de bilheteria, Cameron teve de fazer teste para ganhar o papel. "Mas quando eu a coloquei cara a cara com DiCaprio, a sala se iluminou", lembrou o diretor. Scorsese é um habitué do festival às margens do Mediterrâneo. Taxi Driver arrebatou a Palma de Ouro em Cannes em 1976, e Depois de Horas lhe garantiu o premio de melhor diretor em 1986. Este ano ele cumpre jornada dupla. Além de promover Gangues de Nova York, preside o júri de curtas-metragens, entregando neste domingo a Palma de Ouro da categoria. Ontem, antes de exibir o clipe do novo filme, ainda aproveitou para homenagear um de seus cineastas favoritos, Billy Wilder, morto em março último. Scorsese selecionou alguns trechos de seus principais filmes, como Sabrina e Quanto mais Quente, Melhor. "Tive a chance de encontrá-lo em algumas ocasiões. Na última vez que nos falamos, ele disse que só me invejava pelos anos que eu ainda tinha pela frente. Desde então, tenho tentado fazer bom uso deles", disse, arrancando aplausos da platéia.

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