Novas tecnologias reanimam cinema cubano

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O veterano cineasta cubano Humberto Solás enfrentou um longo período de inatividade até recomeçar sua carreira cinematográfica. Com a crise econômica de Cuba, o diretor de filmes que desafiaram a censura política como Lúcia (1968) e Cecília (1982) só voltou a planejar uma nova obra neste ano, quando deu início à preparação das filmagens, com câmeras digitais, de Miel para Ochún (Mel para Oxum), estrelado por Jorge Perugorría e Isabel Santos. "A sobrevivência do cinema latino passa pelo digital", disse Solás, em entrevista ao diário francês Le Figaro, na qual buscou apontar os rumos da cinematografia mundial. "O difícil mesmo é conseguir investidores para bancar uma câmera de US$ 40 mil." A dificuldade, porém, não é tão desanimadora agora, passado o longo período (1991-97) em que o cinema cubano praticamente ficou paralisado, em razão da dissolução da União Soviética. Ele acredita que a tecnologia digital - capaz de baratear tremendamente os custos e "democratizar" a produção de filmes - vai revolucionar a forma de contar histórias no cinema e garantir a diversidade do gênero de filmes. A possibilidade de filmar com câmeras digitais permite aliar extrema mobilidade, indispensável ao projeto, com alta definição de imagem. Posteriormente, o material gravado é transferido para película. Poucos, no entanto, vislumbram um cinema tão avançado, como prevê o alemão Wim Wenders, que visualiza até salas digitais, em que a projeção é feita por computador. No Brasil, a experiência de usar câmeras digitais não é nova - Bia Lessa com Crede-Mi e, especialmente, Eduardo Coutinho com Santo Forte e Babilônia 2000 (título provisório) adotaram a tecnologia digital por corresponder ao que procuravam, ou seja, que desse conta de seu modo de filmar solto, semi-improvisado, como se esperassem as coisas mostrarem o seu ritmo natural para então segui-las com a câmera. Liberdade barata - Como o equipamento é de fácil manuseio, o diretor consegue uma mobilidade quase ilimitada e uma liberdade de movimentos que serve exatamente para expressar o seu pensamento. "O cinema digital vai permitir recuperar tudo o que estamos perdendo agora: os pequenos filmes, o cinema mais autoral, tudo que é específico poderá reaparecer, com classe", acredita o também cubano Rigobelo Lópes. Os principais favorecidos são os autores de projetos de baixo orçamento. Como o do jornalista Angelo Schincariol, que escreveu O Enfermeiro, curta-metragem estrelado por Paulo Autran. Foi decisiva a opção pelo uso de câmeras digitais, que se tornaram ferramentas essenciais para produções modestas em todo o mundo -- as câmeras custam, em média, US$ 3,5 mil e modelos de alta-fidelidade podem custar até US$ 500 em lojas de descontos nos EUA, centro principal dos filmes de baixo orçamento. Há também o outro lado: cineastas que se aproveitam do avanço tecnológico promovido pela indústria para diversificar as experiências. É o caso de Wenders, que está escrevendo o roteiro de In America, um novo road movie que deverá começar a filmar no fim do ano. Entusiasta da nova tecnologia, o diretor alemão vai utilizar uma nova série de câmera digital produzida pela Sony, a 24P.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.