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Nos curtas, um olhar sobre a metrópole

Nos curtas, um olhar sobre a metrópole Lina Chamie volta a São Paulo em documentário sobre a São Silvestre

Por Luiz Carlos Merten - O Estado de S.Paulo
Atualização:

São tantos filmes, e de tantos países, que a gente até se esquece de que o Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade contempla uma mostra de curtas, além dos longas. Nove curtas brasileiros e nove internacionais integram a competição do formato nas duas categorias. Irã, França, Austrália, China, Reino Unido, Cuba - pode-se dar a volta ao mundo só por meio dos curtas do 16º É tudo Verdade. Os concorrentes brasileiros incluem obras de diretores conhecidos - e consagrados. Roberto Berliner assina Meia Hora com Darcy, que traz um depoimento histórico do antropólogo e político Darcy Ribeiro, colhido dois meses antes de sua morte, em 1996. Lina Chamie volta-se para um fenômeno paulistano, a corrida de São Silvestre, tão tradicional no calendário da cidade quanto a própria data de sua fundação.

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Uma, a fundação, ocorre em janeiro, a outra, a corrida, em dezembro, no último dia do ano. Não há réveillon, em São Paulo, que não tenha sido precedido pela Corrida de São Silvestre, que atrai à cidade participantes de todo o mundo. O cinema de Lina Chamie tem uma ligação muito forte com a cidade. Um dos momentos mais belos de Tônica Dominante prescinde de palavras e mostra apenas Fernando Alves Pinto que, num amanhecer, desce a Rua Xavier de Toledo rumo ao Teatro Municipal. Nada além da imagem, e da música. A rua é um dos corredores por onde passa o trânsito pesado da metrópole. É um ônibus atrás do outro. Lina filma a Xavier de Toledo deserta, exceto pelo ator, que caminha.

Em A Via Láctea, só mesmo uma artista para situar, no inferno que é o trânsito caótico da cidade, no horário do rush, os fundamentos para uma história de amor trágica como a que une/desune os personagens de Marco Ricca e Alice Braga. A cidade volta agora ao cinema de Lina Chamie, e não faz mal que o filme seja curto nem que os personagens não sejam ficcionais. A relação da câmera com eles, e com o cenário, não é muito diferenciada. É mais superficial, talvez. Mas é justamente essa superficialidade que parece atrair a autora.

A São Silvestre desenrola-se em espaços urbanos bem conhecidos. Os corredores descem a Consolação, dobram à esquerda na São João, na altura do Brahma, e vão ressurgir na São João, do outro lado, no Largo Paissandu, antes de subir a Conselheiro Crispiniano rumo ao Teatro Municipal, ao qual se dirigia Fernando Alves Pinto, e o Viaduto do Chá. Quem são essas pessoas que correm? A câmera de Lina corre com elas, montada sobre dois amigos da diretora que concordaram em ser seus homens-câmera. A corrida é efêmera, a glória (da São Silvestre) pode ser eterna. O corredor também passa pelos cenários que persistem. O provisório e o definitivo. Este movimento está em todo o cinema de Lina - no documentário como nas ficções, no curta como nos longas. A mostra pode ser de curtas, mas os filmes merecem tanta atenção quanto os longas.

 

SÃO SILVESTRECine Livraria Cultura. Hoje e 6ª, às 17 h.

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