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Nos cinemas, Sob o Efeito da Água, com Cate Blanchett

O segundo longa de Rowan Woods, que estréia nesta sexta-feira, traz Cate no papel de Tracy, uma ex-drogada de 32 anos que procura um sentido para sua vida

Por Agencia Estado
Atualização:

Talvez a melhor maneira de definir "Sob o Efeito da Água" seja dizer que se trata de um filme sobre a dificuldade de dar a volta por cima. A dificuldade da segunda chance, para usar um termo (e um conceito) caro ao cinema anglo-saxão. Sobre esse tema (o clássico, aqui, é "Lorde Jim", de Joseph Conrad) pode-se dizer que o protagonista vê-se em situação inferiorizada por algum erro do passado. O desenvolvimento desse tipo de história passa pela transformação da sua fraqueza em força. Daí o aproveitamento da nova chance e, finalmente, a redenção. Esse é o esquema básico, em parte seguido pela ex-drogada Tracy (Cate Blanchett) que, aos 32 anos, procura refazer a vida, dar-lhe um sentido, mas vê-se a toda hora convidada a pensar sobre as dificuldades da volta aos trilhos da sociedade quando uma vez já se esteve à margem. O título em português se refere ao fato de que Tracy é nadadora contumaz. Busca a piscina a cada vez que o mundo lhe parece demasiadamente hostil. Não é, talvez, uma boa versão de título. O original, "Little Fish", indica melhor que uma moça com poucos recursos, em busca de reconstrução pessoal, é peixe pequeno diante da imensidão de uma vida social que não costuma conceder novas oportunidades, sobretudo aos mais fracos, quer dizer, aos economicamente mais frágeis. Este é o segundo longa-metragem de Rowan Woods, que mostra boa mão ao dirigir personagens. Ele tem uma rede complexa de tipos com os quais lidar. Tracy não está só. Ela interage com a mãe estressada (excesso de trabalho), o irmão de mente vocacionalmente criminosa, um ex-futebolista viciado em heroína a quem tenta ajudar e um ex-namorado que sumiu, volta, e prova que seus costumes não evoluíram tanto durante a ausência. Por outro lado, o filme também é ilustrativo de como funciona o submundo de uma sociedade tão desenvolvida quanto a de Sidney, na Austrália. O tráfico de drogas, a marginalidade, as misérias pessoais e sociais estão lá presentes, como em toda a parte. Esse entorno é gerador de conflitos, mas o filme não cai no discurso complacente de culpar a sociedade por tudo, nem opta pela solução contrária, fingir que se vive num mundo muito bom e que as pessoas se desviam por falta de caráter. Quer dizer, entre as soluções fáceis da esquerda e da direita, Woods opta por um retrato mais complexo, o que diz em favor do filme. Da mesma forma, é boa a maneira como articula a trama, evitando qualquer moralismo no tratamento desse flagelo contemporâneo que é a droga. Se existem bandidos, esses são os traficantes, mas os usuários são vistos mais como vítimas de suas próprias fragilidades do que como pessoas perigosas, que deveriam ser encarceradas. O filme tem um perfil humanista. E não deixa de problematizar também a saída fácil da tal da "segunda chance". Se é verdade que os indivíduos podem construir uma nova oportunidade para si mesmos, também é fato de que esta nunca é fácil. Precisa ser batalhada. E, às vezes, pequenas compensações valem tanto como uma grande redenção. É o que insinua o bonito final. Sob o Efeito da Água (Little Fish, Austrália/2005, 114 min. ) - Drama. Dir. Rowan Woods. 14 anos. Bristol 7 - 13h50, 16h20, 18h50, 21h20 (6ª e sáb. também 23h50; 2.ª 13h30, 16 h, 18h30). Iguatemi Playarte 1 - 13h50, 16h20, 18h50, 21h20 (6.ª e sáb. também 23h50). Market Place Playarte 1 - 13h50, 16h20, 18h50, 21h20 (6.ª e sáb. também 23h50). Reserva Cultural 3 - 17h20, 19h35, 21h50. SP Market 6 - 19h10, 21h35 (6.ªe sáb. tb. 0h). Cotação: Bom

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